AOS MEUS PRECIOSOS LEITORES (CASO EXISTAM) ENVIO ESTA MENSAGEM DE NATAL, ATRAVÉS DO TEXTO LUMINOSO DO ESCRITOR MINEIRO BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIROZ
<<ERA SILENCIOSO O AMOR. PODIA-SE ADIVINHÁ-LO NO CUIDADO DA MÃE ENXAGUANDO AS ROUPAS NAS ÁGUAS DE ANIL. ERA SILENCIOSO, MAS VIA-SE O AMOR ENTRE SEUS DEDOS CORTANDO A COUVE, DESFOLHANDO REPOLHOS, CRISTALIZANDO FIGOS, BORDANDO FLORES DE CANELA SOBRE O ARROZ-DOCE NAS TIGELAS.
LIA-SE O AMOR NO CORPO FORTE DO PAI, EM SEU PRAZER PELO TRABALHO, EM SUA MANSIDÃO PARA COM OS LONGOS DOMINGOS. ERA SILENCIOSO, MAS ESCUTAVA-SE O AMOR MURMURANDO – NOITE ADENTRO – NO QUARTO DO CASAL. A CASA, SEM FORRO, DEIXAVA VAZAR ESSE MURMÚRIO COM O AROMA DE FUMO E CANELA, QUE INVADIA LENÇÓIS E DÚVIDAS, PARA DEPOIS FILTRAR-SE POR ENTRE AS TELHAS.
EXPERIMENTAVA-SE O AMOR QUANDO, ASSENTADOS AO CALOR DA COZINHA, PAI E MÃE FALAVAM DE DISTÂNCIAS, DOS AVÓS, DAS ORIGENS, DOS NAMOROS, DOS CASAMENTOS.
E, QUANDO O SONO CHEGAVA, PARA CADA MENINO EM CADA TEMPO, ERA O AMOR QUE CARREGAVA CADA FILHO NOS BRAÇOS PARA A CAMA, AJEITANDO O COBERTOR SOB O QUEIXO >>.
Bartolomeu Campos de Queirós, nascido em Pará de Minas, cidade próxima a BH, em 1944, falecido em 2012. Teve mais de 40 livros publicados, alguns deles traduzidos para inglês, espanhol e dinamarquês) Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado/ Palácio das Artes e membro do Conselho Estadual de Cultura, de Minas Gerais. Andou pelo mundo, mas sempre manteve permeáveis suas raízes mineiras. Sobre ele alguém disse: Bartolomeu conheceu as cidades apreciando azulejos e casas pacientemente; um andarilho atento a cores, cheiros, sabores e sentidos que rodeiam as pessoas de um lugar. Com o mesmo encanto na alma, observava os rios da Amazônia, dos quais costumava sentir saudades quando estava em Minas. Só fazia o que gostava; não cumpria compromissos sociais e nem tarefas que não lhe pareciam substanciais. Dizia ter fôlego de gato, o que lhe permitiu nascer e morrer várias vezes. Palavras dele: “Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o suficiente para uma palavra me ressuscitar.”
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Tudo bem é Natal. Mas é também tempo de se falar de outras coisas importantes, por exemplo, além do nascimento, seu oposto. Vejam a entrevista de André Kisser, músico, sobre o assunto da Morte Voluntária Assistida, ato que eu defendo e inclusive milito pela sua regulamentação no Brasil, através da entidade civil EU DECIDO.

Bom, tem leitor, sim…
Valeu. Obrigado pelo conto poetico de Bartolomeu, pela biografia dele e por lembrar que Natal é a essência de tudo entre nascer e morrer.