Assim Sophia viu Brasília

Em minha primeira viagem a Portugal, flanava eu pelas ruas do Chiado e ato contínuo resolvi tomar um daqueles charmosos eléctricos amarelos, que subindo e descendo ladeiras acabou por me deixar em uma praça nos altos opostos ao meu ponto de partida, o Miradouro da Graça. Ali, em um pequeno paço, me vi diante de uma bela e extensa vista, que abarcava desde o bairro da Mouraria, ao rés do chão, até o Castelo de São Jorge e o bairro da Alfama, ao centro, com a Sé de Lisboa mais adiante e mesmo, além, a ponte 24 de Abril e um pedaço do Tejo. No logradouro propriamente dito um busto em bronze me avisava que o local era conhecido também pelo nome da homenageada, Sophia de Mello Breyner, que eu até então ignorava quem fosse. Nos dias seguintes vi o que minha imperdoável ignorância me negara: ela era uma das maiores escritoras e poetas de Portugal, comparada até mesmo a Fernando Pessoa. Seu nome estava não só em pracinhas como aquela, mas em outros locais públicos da cidade e, de maneira que revelava sua real importância, em uma série de poemas sobre o mar, inscritos nas paredes que ladeavam os enormes aquários do Oceanário de Lisboa, que visitei um ou dois dias depois. Assim ela chegou em minha vida.     

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Cidade em trabalho de parto: assim Chaya Pinkhasovna viu Brasília

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia pré soviética, recebendo o estranho nome acima. Judia na origem, virou pernambucana, carioca e finalmente brasileira, da variedade universal. Muito do encanto complexo de sua escrita vem exatamente de uma estranheza ela nos provoca, mas que ao mesmo tempo, por vezes, também nos abisma pela cristalinidade que ela é capaz de nos trazer, a partir do nada. Chaya viu Brasília nascendo, ou quase. E se estranhou o que viu, também se extasiou.  Esplendorosa foi um dos adjetivos que utilizou para a cidade, em uma das duas longas crônicas que escreveu sobre ela. Foram três as suas passagens por aqui: 1962, 1974 e 1976 e os textos que escreveu, em duas dessas ocasiões, mostram alguém que tenta decifrar a identidade daquela estranha cidade recém-criada. Nesta, a força de um discurso oficial e de um planejamento centralizado, junto com a ausência de multidões e também de esquinas, chamaram a atenção da escritora. Aqui vai uma seleção de suas impressões. Estávamos na década de 60, é bom lembrar: era outra cidade, era outro Brasil; outras eram as esperanças. O Brasil, de certa forma, também estava começando. Depois capotou. Vamos aos delírios de Chaya. Continuar lendo “Cidade em trabalho de parto: assim Chaya Pinkhasovna viu Brasília”

Visão de uma cidade em trabalho de parto: As Margens da Alegria

Li, por esses dias, dois textos que falam da visão de uma cidade nascente – Brasília – naquele período mágico em que tudo indicava que o Brasil ia dar certo. Éramos campeões mundiais de futebol, de tênis, de boxe e de esperanças. Uma nova capital estava sendo erguida nos fundões do país. Nada mais emblemático. Falarei do primeiro desses textos aqui, o conto “As Margens da Alegria”, de Guimarães Rosa. Na sequência quero trazer Clarice Lispector e Vinicius de Morais, Sophia de Mello Breyner e outros, enquanto vou tentando colecionar mais e mais. Antes de começar, um preâmbulo. JGR trouxe vários personagens infantis à luz em sua obra. O mais notório talvez seja Miguilim, em “Campo Geral”, mas não podemos esquecer do Quinzinho de “Conversa de Bois”; de Nhiinha, a “Menina de Lá”; dos irmãos e do primo de “A Partida do Audaz Navegante”, além de outros. Acrescento a tal galeria este outro menino, não nomeado que ia “com os tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho. Saíam ainda com o escuro, o ar fino de cheiros desconhecidos”. Continuar lendo “Visão de uma cidade em trabalho de parto: As Margens da Alegria”

O dia em que conheci Brasília

Entoando nosso hino, o rataplã do arrebol, de cujas palavras ignorávamos o exato significado, nos arrancamos de BH em uma manhãzinha de abril de 1960. O caminhão Chevrolet tinia de novo (uma gíria da época) e levava nossa tropa, o Grupo Escoteiro do Colégio Estadual, para participar da inauguração de Brasília. Dentre nós, os mais viajados mal haviam passado de Lagoa Santa, ou adjacências, sempre … Continuar lendo O dia em que conheci Brasília

DF tem 165 mil diabéticos!

Pesquisa mostra que o número de portadores da doença cresceu 22%, seguindo tendência nacional. Para especialistas, um dos principais fatores para incidência do mal é o sobrepeso Em seis anos, a incidência do diabetes no Distrito Federal aumentou 22%. No ano passado, 6,6% dos moradores da capital (165 mil pessoas) se declararam portadores da doença, enquanto, em 2006, o índice era de 5,4%. Os dados … Continuar lendo DF tem 165 mil diabéticos!

Phantasilia e Belgladesh

(Nova fábula, com sabor antigo) Fui professor de Medicina por três décadas… Neste texto, escrito ainda na época de docente (da Universidade de Brasília), revelo alguns fantasmas que me assombravam… A aposentadoria também os aposentou de meus pesadelos. Mas certamente continuam presentes na vida de muitos professores e outras pessoas envolvidas com o ensino médico no país.   Era uma vez um Reino, muito distante … Continuar lendo Phantasilia e Belgladesh

Onde foi que nossa cidade capotou…?

 Como conheci Brasília Entoando nosso hino, o “Rataplã do Arrebol”, de cujas palavras ignorávamos o exato significado, nos arrancamos de BH em uma manhãzinha de abril de 1960. O caminhão Chevrolet tinia de novo (uma gíria da época) e levava nossa tropa, o Grupo Escoteiro do Colégio Estadual, hoje “Milton Campos”, para participar da inauguração de Brasília. Dentre nós, talvez, os mais viajados mal haviam … Continuar lendo Onde foi que nossa cidade capotou…?

Atenção básica no DF

Neste trabalho, analisei alguns dados, disponíveis na web, que podem ser considerados expressivos e reveladores de tendências concretas em termos da evolução da atenção básica no DF, bem como na comparação com outras capitais. Em síntese, percebi que, acima de tudo, no contexto atual do DF, mas que também reflete o acontecido nas últimas décadas, que a gestão da saúde não honra a herança dos … Continuar lendo Atenção básica no DF

Mais médicos… Mais? Do mesmo tipo?

O Brasil certamente precisa de “mais” médicos, mas também precisa de doutores bem qualificados, formados dentro de uma mentalidade diferente, na qual o compromisso social esteja acima – bem acima! – das injunções corporativas. Mas carece, também, de ações de governo mais conseqüentes, de agentes políticos mais responsáveis, de corporações mais sensíveis e menos agressivas e, principalmente, de cidadãos mais bem informados… Leia mais clicando aqui! Continuar lendo Mais médicos… Mais? Do mesmo tipo?