Diário Mínimo

“Diário Mínimo” não é definitivamente, um título original. Umberto Eco já se lembrou dele desde os anos 80 para dar nome a dois de seus livros, pautados por curtas  reflexões geniais sobre o cotidiano. Da ideia original de Eco retenho a dimensão (curta!) e o caráter de reflexão sobre o cotidiano. Genialidade, infelizmente, é algo que não posso oferecer… Mas fiquem os leitores despreocupados: neste espaço jamais lerão, à moda feicebuquiana, sobre o que acordei pensando no dia de hoje e nem sobre o que comi no almoço… E prometo não chamar ninguém, gratuitamente, de “amigo”.  E obrigado pela honrosa visita!

22/10/2013: Mais do mesmo, dona Dilma?
-Pois é, o Congresso acabou aprovando a MP do “Mais Médicos”. tudo bem, está longe de ser perfeito mas foi um choque no ranço corporativo que se abateu sobre a discussão da questão. Agora, pergunto que não quer calar é: mas essa turma de médicos que aí vem tem o mesmo estofo daqueles com que estamos acostumados até agora? Qualquer dúvida leiam meus textos “Phantasilia e Belgladesh“ (publicado neste blog em “Confesso que Escrevi“) e  “Mais Médicos: mais? Do mesmo tipo?“ (em “Escritos Técnicos“).
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23/10/2013: Senado aprova atendimento domiciliar do INSS a idosos doentes
Uai, mas não era o SUS que tinha que providenciar isso?
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26/10/2013 - Lições do ENEM
Hoje foi dia de ENEM... Mais de sete milhões de pessoas fizeram a prova. Não sei quantos mil pontos de atendimento. Uma mobilização incrível, do tipo "nunca dantes neste país" (esta, sim...). Não é demais lembrar do começo de tudo, há bem poucos anos: docentes  e suas corporações de ofício na maior encrenca, alunos botando pra quebrar...  como se fosse o fim do mundo. Pois bem, o mundo não acabou e o exame hoje é usado como seleção pela maioria das universidades públicas, encerrando a hegemonia histórica dos famigerados vestibulares. Lição do dia: que medo esta gente tem de avaliações... Longa vida ao ENEM - e que ele fique cada vez mais aprimorado! A Educação no Brasil agradece!
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30/10/2013 – Ornamento Urbano
De minha filha NANDA, que acaba de fechar um financiamento tipo “crowd funding” para o livro de sua Tese de Doutorado sobre Ornamento Urbano: <<A maioria dos antigos catálogos de ornamentos era sistematizada pela organização de diferentes agrupamentos, que expressavam semelhanças formais, estilísticas, funcionais e outros graus de “parentesco”. Uma lógica que, no entanto, nem sempre era obedecida, nas também inúmeras publicações que optavam por compor uma simpática salada visual, misturando formas, aplicações, motivos, tratamentos e temporalidades, distribuídos em páginas de (muitas vezes) generoso espaço>>. Vejam o link no "aqui"
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30/10/2013 - Ainda a Unanimidade...
Que meus gentis leitores não se esqueçam: no dia 5 de novembro próximo, terça feira, a partir de 19 horas, estarei lançando meu livro A UNANIMIDADE FAZ MAL À SAÚDE. Local: Café das Senhoritas - Comércio Local Norte 408 - bloco E. Apareçam! Serei unânime na gratidão e na admiração...
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1º/11/2013 Ainda o barulho (agora, silêncio) das ruas…

Redigi esta mensagem a um amigo (Geniberto Campos) em 27 de junho pp. e – sei não – acho que mantenho minha opinião (que é uma coisa boa de se contar nos dias de hoje…). Vamos lá:

<<De sua análise dos recentes acontecimentos, o mínimo que posso dizer é o seguinte (à moda de JC, 2000 anos atrás…): “Senhor, perdoai-o, pois ele não sabe o que diz”… Não leve a mal… Eu também não sei… Castells e os preclaros intelectuais europeus que o seguem, também não sabem. Aqueles mocinhos e mocinhas que até a véspera estavam nos shoppings da Faria Lima, também não sabem. E sabem menos ainda das coisas os tais vândalos, se é que eles existem de verdade (eu acredito que sim!). Confusão danada em que nos meteram, hein? A gente que não sabia explicar direito nem o corriqueiro das coisas, agora tem que dar conta de uma coisa grandiosa (em todos os sentidos…) assim. Sabe o que eu penso? Vou tentar explicar, mas devo abrir minha “pensata” (não tão sensata…) sendo bastante modesto, na pior das hipóteses, ou até mesmo socrático, na pior delas: sei é que nada sei… Mas este negócio desafia mesmo. Não adianta vir com simplismos pra cima dele… Eu me sentiria melhor se tivesse em minha frente um “porviroscópio” (imagem inventada genialmente por Monteiro Lobato) que me mostrasse não o futuro remoto, mas digamos, o final da próxima quinzena. E arrisco o prognóstico: quase ninguém estará nas ruas… Aliás, quase ninguém se lembrará do que aconteceu. O curioso neste movimento é que ele se faz sem políticos, sem partidos, sem política e, ao que parece, até mesmo sem lideranças. Mas isso é trágico também, porque temos muito a temer – penso eu – de movimentos assim tão amorfos. De duas uma, ou se esgotam, como um fósforo queimado ou descambam para uma outra coisa… Que coisa? Esta que vem se mostrando, não só através dos bandos mascarados que querem ver (e fazem sua parte na história) o circo pegar fogo. A COISA se traduz pela falta de propostas concretas… Liberdade, igualdade, fraternidade, passe livre, investigações pelo MP… Tudo é filme que já passou… E vem dona Dilma com o tal plebiscito.. Ou será referendo? Ou será constituinte fatiada? Sei lá… Ela também não sabe de nada, como já antevíamos. Eu fico, tu ficas, nós todos ficamos aguardando os acontecimentos… Volto ao trágico… O trágico de verdade é este movimento, para vir a se concretizar e produzir mudanças, carecer de buscar líderes, partidos, a boa e velha política… Infeliz do povo que precisa de heróis, já dizia Brecht (ao saber a verdade sobre o Guia dos Povos – Stalin, certamente). Infeliz do movimento que precisa de líderes, partidos, essas coisas… Ou será que não? Aí, o cão morde seu rabo e a porca torce o dela! Estamos todos lascados, pelo visto. Pois é, meu amigo. como não sou nada rousseauniano ao tentar entender o ser humano, fico com uma posição pessimista mesmo. E pergunto (como se já não bastassem tantas perguntas…): este movimento não terá por trás de si, como no filme Matrix, um bando de Hackers manipulando as multidões através das “redes sociais”? E estes caras, sentados confortavelmente e empunhando seus teclados, fazem parte dos que vão às ruas levar balaços de goma e cheirar pimenta? E os dignos membros estas multidões, que atraem outras multidões, resistiriam a algumas perguntas básicas, do tipo: “o que vem fazer aqui e como acha que pode mudar o mundo”? (talvez respondam com o famoso “sei lá, entende?”). E estes caras que quebram, apedrejam, tocam fogo, agridem e não mostram o rosto: fazem parte dos que têm alguma consciência do que estão fazendo? Não seriam o embrião malévolo dentro de um ovo de serpente que sempre acompanhou a história da humanidade ou, pelo menos, das multidões? E ainda: quem são os que realmente estarão ali num movimento consciente e não do tipo “Maria vai com as outras”)? Mas de uma coisa acho que tenho certeza : por trás de tudo isso não está a Rede Globo, nem a Veja, nem as “elites” de que falava certo engenheiro dos Pampas e muito menos o Imperial-Neoliberalismo… O buraco é realmente mais prá baixo… Chega né… Grande abraço, com amizade e admiração!


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3/11/2013: Tempos modernos, ora pois…

Com o devido destaque para o português lusitano, que enfeita esta matéria recolhida ao acaso, na internet, ponho-me a pensar sobre tal objecto e o que dizer dele… <<Uma nova tendência de anúncios de oferta de trabalhos domésticos, que dá sentido à expressão “pagamento em géneros”, está a agitar os franceses. A história, contada no jornal francês, Le Parisien, conta como está a virar moda trocar certos serviços como arranjos de canalização ou traduções e explicações em casa, por favores sexuais. Nos últimos tempos multiplicaram-se os anúncios do tipo: “homem efectua tarefas domésticas a troco de mimos”, ou “diplomado em ciência política dá aulas de francês, inglês, filosofia ou cultura geral a troco de carinhos de aluna maior de idade ou da mãe da aluna”. E isto está a agitar a opinião pública francesa. Os anúncios chegam a primar pela descrição como um de um homem de 44 anos, “respeitável, higiene irrepreensível, não fumador, com 1,80 metros, 85 quilos”, que troca reparações eléctricas por “mimos picantes”.>> Assim caminha a humanidade…

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7/11/2013 – Lancei!
Há dois dias fiz o lançamento de meu livro A UNANIMIDADE FAZ MAL À SAÚDE. Algumas dezenas de pessoas presentes, outro tanto de livros vendidos (bem que gostaria de doá-los, mas enfim…). Convidei gente de toda banda, principalmente das instituições por onde passei nestes 22 anos de Brasília: MS, UnB, OPAS, Observatório da Saúde, NESP… Metade não apareceu, embora alguns tenham justificado. Mas o saldo, para mim, foi positivo, para não dizer glorioso: o grupo que esteve ao meu lado na noite do dia 5 era composto de nada menos do que AMIGOS. Não é todo dia nem todo mundo que pode se dar ao luxo de juntar 50 pessoas de tal grandeza. Sobre o que meu avô Altivo dizia (“quem há de segurar a alça de meu caixão?”), creio que já posso dormir sossegado… Em todo caso mandarei oferecer um vinhozinho, antes do último embarque (para o forno de cremação)…
Obrigado a todos!
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12/11/2013: Um novo profissional: Procurador da Saúde

No ano passado, apareceu um artigo em “The Journal of the American Geriatrics Society” propondo um novo tipo de profissional: o procurador da saúde, alguém para agir em nome de um idoso em questões de saúde. “Em grande medida, essas pessoas seriam enfermeiros ou assistentes sociais aposentados, pessoas das profissões que auxiliam”, afirmou um dos autores do artigo. Também poderiam ser sacerdotes ou assistentes jurídicos. Os procuradores da saúde se reuniriam com os médicos conforme se mostrasse necessário para compreender um prognóstico ou opções de um cliente. Como eles compreenderiam o que os clientes querem ou não, tais profissionais seriam seus defensores quando o paciente não pudesse exprimir sua escolha.Seria, segundo os proponentes da ideia, uma opção desejável até mesmo para quem tem parentes. Talvez a pessoa não queira dar um fardo aos familiares. Talvez estejam brigados. Talvez eles temam que em uma crise, os parentes não cumpram as instruções”. E digo eu (FG): sinal de progresso, sem dúvida, mas bom mesmo é continuar tendo a família por perto…

Leia mais em: http://nytsyn.br.msn.com/cienciaetecnologia/a-necessidade-crescente-de-um-novo-profissional-procurador-da-sa%C3%BAde

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23/11/2013: Diabéticos: somos mais de 160 mil no DF!

Pois é… Deu no Correio Braziliense: existem mais de 165 mil diabéticos no DF. E eu sou um deles… Dou aqui meu depoimento. As coisas melhoraram para nós, diabéticos, pelo menos hoje temos a garantia de insulina de última geração  a custo zero (para nós, pelo menos…). Mas tem coisa que pode melhorar. Por exemplo: por que não oferecer a insulina em pontos descentralizados, mediante processo informatizado de entrega, com regras que não mudem a cada mês? Acho que não seria difícil conseguir isso, é apenas uma questão de decisão de quem manda no pedaço, nada mais… Faz pouco sentido, também, a exigência de renovação de relatório médico a cada seis meses. Afinal, diabetes não é uma doença para a vida toda? Mas, tudo bem, vamos comemorar o que já foi conquistado!

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24/11/2013: Só a cabecinha, meu bem…

Pois é, a Papuda tem novos habitantes… Regosijo geral no Brasil, ou melhor, em determinadas partes do Brasil (entre os leitores de Veja, por exemplo…). O sentimento parece ser: “está provado que existe Justiça neste País!” Não precisa praticar nenhuma advocacia diabólica para indagar em alto e bom som: “SERÁ?”. Que justiça é essa que funciona apenas para uma parte? Barbosa faz o estilo “só a cabecinha meu bem, não vai doer”. E entra a cabecinha na papuda – o resto fica de fora. Está instaurada a justiça 50% no Brasil… Azeredos, Akquimins, Serras e outros lustrosos tucanos: por que para vocês não vai nem a cabecinha? Barbosa, da próxima vez bota tudo pra dentro! Desculpem os leitores tanta vulgaridade – mas é que me vem – desculpem! – à cabeça neste momento…

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02/12/2013: Barbosa, a novidade…

Pesquisas mostram que Joaquim Barbosa aparece numericamente em segundo  lugar nas intenções de voto para Presidente, com 15%, ficando atrás apenas de Dilma, com 44%, e tecnicamente empatado com o senador Aécio Neves, que tem 14% e à frente também de Eduardo Campos, tem 9% das preferências. Bom para Dona Dilma, é claro, mas e para Barbosa e seus companheiros de baixa percentagem? Estes… não sei… Mas com certeza é ruim para a qualidade da política brasileira. Não vou dizer “cada macaco em seu galho”, pois certamente serei acusado de racismo, mas, quem sabe, o ditado espanhol (ou chileno, sei lá): “pastelero a sus pasteles”…

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7/12/2013: Ele era “O Cara”!

<<Mandela estava em Xangai, hospedado na suíte presidencial de um hotel de luxo. Ao se levantar de manhã, ele arrumou a cama, como fazia onde quer que dormisse –incluindo o Palácio de Buckingham e a Casa Branca. A camareira que respondia pelo seu quarto ficou preocupada, como se já não soubesse seu lugar no mundo. Mandela, que estava participando de uma ciranda de reuniões com membros do governo chinês, foi informado da preocupação da camareira e a chamou ao seu quarto. Por meio de um intérprete, ele pediu desculpas, explicando que arrumar a cama era um reflexo tão natural e inevitável para ele quanto escovar os dentes a cada manhã. Mandela explicou que havia passado muito tempo na prisão, e que arrumar a cama era um hábito que não conseguia abandonar.>> O texto acima, do Jornalista inglês John Carlin, biógrafo de Mandela, diz tudo. sobre esta figura impar, o último herói verdadeiro da humanidade. Quantos séculos passarão antes que apareça outro igual a ele? Não choro sua morte, aliás, um descanso merecido. Antes me regosijo de ter vivido na mesma época de um cara assim – O Cara! 

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16/12/2013: Profetas do óbvio…

Sabem aquele negócio de b2-4ac igual a não sei o quê? Para mim era e continua sendo grego, ou talvez árabe, para fazer jus à origem da linda palavra “álgebra”… Vi no Portal G!, há duas semanas, que dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2012, divulgados há poucos dias, mostram que o Brasil até melhorou no ensino da matemática, mas ainda tem muita estrada pela frente, tendo ficado em 58º lugar entre 65 países (!). Isso significa que a grande maioria dos alunos daqui pode até saber o que é somar, subtrair, multiplicar e dividir; o problema é aplicar tais conceitos no dia a dia… Vi também que alguma luz se vê no final do túnel, mostrando, por exemplo, que mesmo nas escolas públicas se pode obter bons resultados em matemática. O Movimento Todos pela Educação aponta que fazer a moçada aprender bem a matemática inclui medidas como (1) controlar de perto a lição de casa, (2) oferecer aulas de reforço, (3) incentivar e estimular os professores, (4) buscar e aproveitar parcerias. São medidas adotadas por dez escolas públicas brasileiras consideradas “bons exemplos” no ensino de matemática. Uai, só isso? Bem que dizia Nelson Rodrigues, cada vez mais coberto de razão: “verdadeiro profeta é o que descobre o óbvio”… Menos mal…

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10/02/2014. Os tais rolezinhos…

Falo por mim: voltei de férias (quase 30 dias sem internet e jornais) e me dei com esta onda no ar: ROLEZINHO. Não me sinto em condições de fazer perguntas (e muito menos de ter respostas…), não sabendo exatamente do que se trata.. Mas querendo me inteirar dos debates, fiz um rolê pela WEB. Procurei e li alguma coisa, mas sem grande conclusões. Mas deu pra perceber uma multidão de precavidos e propensos às teorias conspiratórias, outros com visões, digamos, “sebastianistas” da questão, aqueles que enxergam nos “flash mobs” (em inglês é sempre mais bonito) o advento da revolução e a redenção dos ideais socialistas. Para mim, nada disso… Por ora me arrisco: ROLEZINHO não seria apenas uma moda (mais uma) de verão? As passeatas de junho de 2013 não pareciam muito mais importantes e entretanto já caíram no esquecimento…?

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26/02/2014 O que há de novo….

Gente amarrada no poste, torcedor assassinado em frente à família, sindicalistas se lixando para a população sem transporte, um professor linchado por dois “universitários” em um banheiro de shopping, um cara é preso no Rio, sob acusação (falsa) de roubo e a Justiça demora 15 dias para liberá-lo, o deputado do castelo assume, glorioso, seu mandato na Câmara etc etc. Acontecimentos que envolvem pobres e ricos… Por quem os sinos dobram, ou melhor, o que causa mais impacto no coração e nas mentes das pessoas e nas manchetes da mídia? Depende, se for para o mal, os pobres ganham notoriedade; os ricos só entram nos noticiários quando são ofendidos, não quando ofendem…Eu queria fazer um comentário mais original sobre a situação atual do Brasil, mas não deu. Desculpem…

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10/03/2014 – A morte do Professor
O professor morreu? Então VIVA o professor!

Mas aquele que sobreviver terá que se reciclar e compor um novo tipo ideal, mais aberto a mudanças, mais modesto e também mais competente, não tanto em “saber tudo”, mas, principalmente, em “saber buscar”.

Aliás, neste início de século vivemos, a la Hobsbawn, uma nova era – a Era dos Funerais… Morre o professor, o burocrata, o funcionário público tipo 8112, os pais quadrados (e não é de hoje…), o estudante viciado em apostilas, os que acham que toda essa modernidade na comunicação  não será capaz de substituir o ancien régime das práticas pedagógicas.

Como disse Camões, tudo muda, a cada dia, mas mudança que é de “mór espanto é de que não se muda já como soía”.

Grande Reginaldo, obrigado por compartilhar sua inquietação e pelas suas buscas, sua capacidade de “saber buscar” – e de encontrar!

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Semana Santa 2014 – Revivendo a Paixão…

Vi de novo, depois de 50 anos o Evangelho segundo Mateus, de Pasolini. Na primeira vez, eu havia recém abandonado a Igreja. Agora, me inclino a voltar. O filme tem um significado maior, portanto. Um filme jovem, apesar de 50 anos passados! Aquele Cristo meio irascível, mal humorado e irônico me sabe melhor do que o Bom Pastor da mitologia católica. Gosto mais deste, que curiosamente reflete a visão de um materialista, ateu. Arte verdadeira é sem fronteiras, sem lógica – não precisa pedir licença. Este Cristo está vivo e vem para empatar a vida de tantos fariseus que andam por aí. Viva ele!

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28/04/2014 – Heranças da Dilma

Por mais boa vontade que se queira ter com este governo (e eu não sou um antipetista por natureza…), a cada dia que passa, a sensação que se tem é que nos lembraremos muito de Dona Dilma no futuro, a conferir: (1) pelas ruas atravancadas de carros comprados a perder de vista na barbada do IPI=zero, sem nenhuma correspondência prática com políticas sérias de investimento no transporte de massa; (2) pela manada de elefantes brancos e ruínas que se verá por toda parte como resultados desta já malfadada Copa do Mundo. Aliás, por falar nisso (Copa), mais do que nunca o dito rodrigueano fala alto: nosso complexo de viralata é realmente monumental!

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21/05/2014 – Patriotismo & Copa da FIFA – nada a ver!

DISCORDO “COM” VOCÊ, meu Amigo!Este atentado à sintaxe é para lhe dizer que aprecio seus textos e sua coragem em remar contra a unanimidade, mesmo que eventualmente discorde do que você diz… em síntese, estou “COM VOCÊ” – e não abro!Mas dessa vez, vamos lá, que lhe exponho a minha “disconcordância”.Você não acha que seria um menosprezo a muitos brasileiros acreditar que eles vem sendo apenas influenciados por alienígenas, pelas “avaaz” da vida, pela perversa mídia internacional, pelos interesses escusos de um “imperialismo” redivivo?E os gastos astronômicos com a famigerada Copa, a opacidade dos processo de construção e alocação de recursos, o desrespeito à legislação, a desfaçatez dos políticos, a precariedade irresponsável das não-políticas públicas, o abaixar as calças para a FIFA, o sindicalismo predatório que impera nas metrópoles, o assardinhamento das multidões naqueles ônibus “padrão África” ? Isso não conta, não vale nada?Além disso, ninguém mais alinhado com o grande capital internacional do que a FIFA… Não faria sentido que tal aliança se desfizesse, em detrimento da nossa pobre e amada Pátria. Pois é meu amigo, este Brazil que está sendo maltratado lá fora, bem o merece…Quem não merece nada disso é o povo daqui… Mas eu me recuso a me render ao conspirativismo. Nossos problemas, em sua maioria, estão aqui mesmo, salvo o fato, já revelado por Saramago há uns 20 anos atrás: “os governos, ora pois pois, não estão onde parecem estar, mas alhures” – isso vale cada vez mais…Para mim a “COPA JÁ ERA”, conforme escrito postado por Juca Kfoury (aquele mesmo que trabalhou na Editora Abril e agora está na CBN, antes que me critiquem a escolha…), título de um libelo explosivo de um jovem Juiz (de Direito) de São Paulo – você o leu, quer que eu mande para você? Abraços, com o carinho e respeito de sempre!

Este bilhete foi para meu amigo GENIBERTO PAIVA CAMPOS, que acha que é nosso dever defender a Copa da FIFA. Tô fora, com todo respeito!

 

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28/05/2014 – Lei da Palmada

E tome polarização a troco de nada. Agora é esta lei simplória… Sou contra. Não que ache que palmadas resolvem algo (experimentei delas e muito mais de maneira abundante na infância e sei bem o que estou dizendo). Também não comungo o argumento liberal de que se trata de uma invasão indevida do Estado na vida das pessoas. Bobagem… O buraco é mais embaixo – ou além. O problema é que este é o tipo de lei que não vai pegar. O fato social da palmada é completamente alheio ao fato jurídico que querem criar. Os brasileiros acreditam demais nas leis. No limite, os pedófilos, os que exploram crianças nos sinaleiros continuarão agindo – eles não dão palmadas em ninguém… Já a mãe de sete filhos que resolver dar uma palmadinha em dos pestinhas a seu encargo, se tiver o azar de ter um vizinho vingativo ou legalista, vai ter que se haver com a lei. Prato cheio para esrtes membros do Ministério Público que não podem ver uma luzinha acesa que a consideram um holofote, em cujo foco devem se postar pra sair bem na fotografia. Quando é que vamos virar um país sério?

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09/07/2014: Faltou Neymar? Sobrou Weimar…

Sim, sou daqueles que realmente não entendem de futebol. Pra falar a verdade, não consigo nem perceber se houve ou não impedimento. Quando a bola atravessa aquela linha branca, sei que é gol. E isso me basta. Mas aprecio o espetáculo do futebol, isso sim. Passes bens colocados, dribles dignos de um salão de dança, cabeceadas feitas em estado de levitação, correrias que culminam em bolas sempre perigosas na área dos adversários. Sei apreciar isso tudo e assim me habilito a fazer os comentários presentes. Este sete a um está atravessado na garganta da nação, ora pois… Na minha, não. O que sei é simples e cristalino, como a água das fontes de Baden-Baden: apenas ganhou o melhor. Não o melhor “mais ou menos” mas o melhor mesmo! Não dá para colocar a culpa no juiz (nem em sua mãe), nem fulanizar, por exemplo, com a ausência de Neymar, o cartão amarelo de Tiago, os frangos de J. César, a imobilidade de Fred (e dos demais), a pressão da torcida ou algo assim. O Brasil perdeu o jogo porque jogou de forma medíocre e bisonha. Eis tudo. Procurar algum culpado é fácil e o Sr. Scolari já se ofereceu ao cadafalso… O que sobrou para nós não seria apenas mais uma vez nos transformarmos em vira-latas irremediáveis, à espera da carrocinha? Ou, quem sabe, poderíamos descer deste salto “7” e sorver algumas lições? Primeiro, a de que futebol é como a vida: se você faz por onde e cumpre a sua parte no trato do negócio, suas chances de sucesso aumentam. Segundo, que trabalhar em equipe – palavra tão cara ao mundo do futebol – não é apenas estar juntos aqui e ali, sob as ordens de um venerável sinhozinho. É mais do que isso, conforme aqueles germânicos demonstraram muito bem. É também uma questão de planejamento e de cumprimento de metas – e isso nos remete à blitzkrieg ariana, de novo. Perseverança e maturidade também fazem bem e isso não tem nada a ver com o chororó e o estrelismo individualista que marcaram a passagem desse time, que a história sepultaria se não fosse o inesquecível vexamaço do dia oito de julho de 2014. Fico com a sensação de que talvez fosse melhor escalarmos algum Goethe, no lugar de Dante, que nos acompanhou ao Inferno…

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23/07/2014 – Piora o Mundo (com se já não bastasse tanta desgraça…)

Partiram Rubem Alves, João Ubaldo e Suassuna. Três em uma única semana. Um mês antes tinha sido Garcia Marquez. Céus, que piorada no mundo!

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11/08/2014 – Fala um pai orgulhoso…

Nanda, minha filha acaba de lançar o livro derivado de sua tese sobre “Urbano ornamento”, com foco nas grades metálicas que povoam as velhas casas de sua (e também minha) cidade, Belo Horizonte. Mas ela não fala só de estruturas metálicas, fala das pessoas que moram ao lado e dentro delas e também dos que as fabricam, com um recorte intimo e humano de tais objetos. É orgulho mesmo o que sinto. Ver minha filha quase sufocada num mar de gente buscando autógrafos (e eu nem pude falar com ela no momento, só depois…). Não tenho nada a queixar em matéria de filhos, muito antes pelo contrário! Vai para Nanda este meu verso meio destrambelhado…

 Nem tudo o que quero, faço

mas, desta vez, não escapo.

A Musa me disse: anda,

diz tudo, sem embaraço,

deixe de seca-papo,

fale do olhar de Fernanda.

Se ela é ramo de lucidez,

ou, quem sabe, de carinho,

eu versejo desta vez,

só prá lhe dar um gostinho.

E a Musa sussura: manda

um meigo verso prá Nanda.

 Se falo somente dela,

As outras podem queixar:

Seja Sophia ou Daniela.

O que fazer, meu azar?

e ela insiste: é favor

fazer pra Nanda um louvor..

Me falece a inspiração

em meio à vida tão dura.

Mas logo, logo, a emoção

aparece em forma bem pura.

E na memória e no siso

de Nanda me vem um sorriso

A Musa aplaude: é assim

que faz um pai que se preza.

Sou literato chinfrim,

pareço um peru na mesa,

nào sou poeta, verdade,

chamem Carlos D. Andrade.

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21/08/2014 A morte de Eduardo

Morrer é sempre triste… Ainda mais aos quarenta anos, ou pouco mais. Pior ainda se a pessoa alcançada pela “Indesejada das Gentes”, como disse Manoel Bandeira, está repleta de planos, vivendo o auge de sua vida e de sua carreira, seja ela qual for… Assim se foi Eduardo Campos, cuja missa de sétimo dia foi celebrada ontem. Suas qualidades, certamente inumeráveis, estão sendo exaustivamente celebras pela mídia e por seus partidários. Não preciso me delongar sobre elas… O que sei é que sua perda é enorme para o País. Pela sua juventude e vontade de fazer algo, mas, principalmente, por se constituir em opção viável (talvez não no presente) para barrar a tediosa polarização entre petistas e tucanos. Vai custar para aparecer outro igual… Marina, que a “Paz do Senhor” te alcance e o “Senhor Jesus” te ilumine, Mas que também te ajudem a se livrar de más companhias. Assim seja…

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16/09/2014 – Carta ao Editor de um Jornal 

EITA amigo, você meio que me deixa em apuros… O que falei sobre certo colaborador deste jornal, assumo, mas trata-se de uma opinião estritamente pessoal, construída, talvez, a partir de umas idiossincrasias minhas, que me levaram a externar sentimentos, digamos, bem fortes, como grosseria, preconceito e tal. Mas se quer uma explicação – e acho que o faz de forma legitima e respeitosa – vou fazê-lo. Chamo de grosseria, por exemplo (há outros nos textos do cronista em foco) a maneira como abusa dos adjetivos e da escatologia para tratar de opiniões de alguém de quem discorda, não importa que seja Paulo Coelho, principalmente porque parece algo totalmente fora do contexto, uma ironia leve que não deixa de ser respeitosa à figura de Cristo. Já vi algo assim quando surgiu a famosa caricatura de Maomé em um jornal nórdico… Mas aqui não é, felizmente, um estado islâmico, convenhamos,,, Preconceito este cidadão demonstrou quando se referiu a Adriana Calcanhoto, algumas edições atrás, explicitando claramente a homoafetividade desta artista, aspecto que não vinha ao caso de modo algum, em artigo cujo objeto era o uso correto da língua portuguesa. Fez ainda pior, a meu ver, ao citar Adelaide Carraro, já falecida, como “lésbica”, não deixando claro se a mesma, em vida, teria apreciado tal qualificativo, colocado assim de forma pública. Mais uma vez por questão fora do foco da crônica e de somenos importância. Quer prova maior de falta de senso de oportunidade (outra das críticas que faço ao cronista), do que escrever um artigo desancando visceralmente Paulo Francis (por quem eu também não tenho e nunca tive a menor simpatia), 10 (dez!) anos (ou mais) depois da morte do mesmo? Com tanto assunto por aí… Você pediu e eu dei minha opinião. Mas ela, naturalmente, tem caráter reservado e pessoal. Digo mais: não sou apenas eu que tenho opinião semelhante sobre este sujeito.

Grande abraço.
FLAVIO
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20/10/2014 – Desta vez não votarei no PT…Aliás, já não o havia feito em 2010, quando votei Marina no primeiro turno (não o fiz em 2014) e anulei meu voto no segundo.Eu fui com Lula todas as vezes anteriores, com convicção.Mas minha defecção não deve ser confundida com aquele “sentimento antipetista” fomentado pela Veja e pelos segmentos revoltados da classe média ameaçada pela onda que veio de baixo e parece ameaçar suas prerrogativas, no trânsito, por exemplo, agora cheio de carrinhos 1.0 comprados a perder de vista; nos shoppings, com estes rolés ameaçadores; nas ruas, com os tumultos blackblocs etc.

Não e não! Minha rejeição a este partido de ex-querda é de outra natureza.

Pra começar, eu trabalhei no Ministério da Saúde nas gestões de Serra e de vários ministros nomeados pelo PT: Padilha e Temporão, por exemplo. No primeiro caso, convivi com petistas e membros de outros partidos, sem maiores conflitos. Aliás, ninguém pedia carteirinha partidária para admitir membros de equipes (contratados geralmente pela terceirização via OPAS). Simplesmente, a gente ficava sabendo das filiações deste ou daquele colega só nas mesas de botequim. Quando Serra foi candidato, em 2002, o mais comum era ver as pessoas circulando com bottons e parabrisas dos carros mostrando claramente suas opções partidárias. Sem maiores problemas.

Esta, entretanto não foi a realidade nos governos petistas, principalmente quando o Ministro e sua curriola eram petistas…

Detesto também o “modo petista de ser”, dos indivíduos useiros e vezeiros de frases como “nunca dantes nesse país”, capazes sempre de defender Lula & Dilma, estejam eles certos ou errados, e que alardeiam as ”conquistas petistas”, seja lá o que isso for, independente da natureza das rodas de conversa onde estejam presentes, sejam aniversários de crianças, papos de futebol, velórios – não importa! E tome “todos e todas”, “companheiros e companheiras”…

Rejeito a arrogância desta gente. Além do “nunca dantes” citado acima, me admira a capacidade de que têm de justificar seus maus feitos (para usar uma expressão cunhada pela “presidenta”) como frutos da necessidade de se combater e evitar práticas políticas da “elite branca”, de possíveis retrocessos nas políticas sociais, de submissão aos Estados Unidos etc.

Ah, os maus feitos petistas… Sarney, Lobão, Collor, Temer? São agora companheiros, associados ao modo de governar que está mudando o país!

Políticas sociais que tiraram milhões da miséria! Pena que o saldo negativo não seja valorizado, por exemplo, a acomodação que se instalou nas classes baixas, que preferem o conforto da Bolsa Família a ingressar pra valer no mercado de trabalho.

Uau, a redução do IPI!  Grande feito, que colocou nas ruas e estradas do país (como nunca dantes…) milhões de novos veículos, sem maior correspondência com investimentos em transporte de massa.

E essas políticas econômicas que colocam o Brasil com índices “afro” de produtividade e inflação fora de controle?

E se entre as tais “políticas sociais” está a leniência com os que bloqueiam estradas e avenidas, com os que invadem prédios públicos, com os vândalos de diversas naturezas – me coloco fora disso – sou contra! Conferi ao Estado (lembram-se do “contrato social”?) a prerrogativa de usar em meu nome a força que inibe os inimigos da democracia, do direito de ir e vir, da preservação do que é patrimônio coletivo. E quero mais é que o Estado corresponda às minhas expectativas e deixe de lado esta complacência, que não tem correspondência em nenhum país democrático do mundo.

O PT jogo fora a criança com a água do banho. Em nome da liberdade, acoberta a anomia. Em nome dos direitos humanos, protege vândalos e suas variações, agora travestidos de “forças políticas”. Em nome de defesa das minorias, cria excrescências como políticas de saúde para ciganos e a de querer impor, ao arrepio de qualquer noção de prioridade, “cartilhas” variadas, que vão desde a aceitação dos divergentes dos costumes (agora superprotegidos como se não houvesse outras coisas importantes no país) até o uso do “politicamente correto” nas relações interpessoais.

Não aprecio a arrogância de pessoas que se consideram acima do bem e do mal, das leis e dos costumes. Gente que se considera, mesmo quando sabidamente equivocada, mais certa do que aqueles que estão certos. Assim são os petistas.

E digo mais. Convivi de perto com petistas, além dos ambientes de trabalho. Tive a infelicidade de manter um relacionamento com uma dessas pessoas. O que vi foi tudo isso desabar sobre mim, além da constatação, trazida diretamente do ambiente de trabalho por uma detentora de um cargo comissionado com indicação política, de que petistas não precisam de inimigos externos, eles mesmos se bastam para achincalhar e destruir o “companheiro ou companheira” que por azar pertença a outra “tendência”. Não é de admirar que tenham isso presente em seu DNA relacional.

Em tempo, não sei se vou votar em Aécio. Sempre me resta a opção de voltar nulo ou não comparecer (são apenas poucos reais de multa eleitoral …).

Sobre um possível governo do PSDB tenho algumas certezas: (1) nem o Brasil nem o Mundo vão acabar; (2) os programas sociais que geram conformismo (e votos) não vão ser interrompidos; (3) o movimento bolivariano será tratado com deveria ter sido: com distância crítica; (4) o Estado Islâmico não será defendido na ONU; (5) a banca nacional e internacional não ficará pior nem melhor do que esteve nos últimos 12 anos; (6) não precisaremos camuflar nossas opções políticas ou, por outro lado, não precisaremos demonstrá-las e fazer alarde delas a todo custo – isso vai ficar fora de moda.

Sobre Lobão, Collor e Sarney: ninguém precisa me dizer que política se faz é assim mesmo. Sei disso. Sob Aécio certamente teremos ACM Neto, Agripino, provavelmente o indefectível Temer e muitos outros do mesmo naipe. Tudo bem. Mas cansei de emprestar a força modesta do meu voto a referendar este tipo de coisa…

E tomara que a obstrução vandálica de estradas e outras vias públicas passe a ser tratada de forma conveniente e enérgica, just in time – sem repetir Eldorado dos Carajás, evidentemente.

Agora vou rezar a oração de São Vargas Llosa!

E vou tirando o corpo fora antes que o Mundo desabe sobre a minha pobre cabeça…

Fui!

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28/10/2014 – Comentário sobre o post acima

Pai,

Vou me ocupar em responder só pq vc é meu pai e eu te amo. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria parado de ler lá no “rolezinhos ameaçadores”.
Vc defendeu perfeitamente o discurso que tem caracterizado a direita nesta eleição. Seu texto todo tem esse viés, mas detaco os comentários homofóbicos sobre a “educação para a diversidade” (política com a qual a Dili tem trabalhado, e que educa crianças para que evitemos novos Levys Fidelix no futuro), além da sua tradicional defesa da “ordem pública” e do uso da força policial nesses casos.
Não deve ser novidade pra vc: eu penso diferente. A esquerda tem discutido é o fim da Polícia Militar, pois temos uma das mais violentas do mundo. E, vc bem sabe, o PT não é um partido de esquerda. Pra mim, tendo opositores tanto à direita quanto à esquerda, o PT é um partido de centro, movimento iniciado quando o partido chegou ao poder em 2003, cujo marco mais visível, nauqele ano, foi a expulsão coletiva que acabou gerando o PSOL de dentro de suas entranhas.
Ainda assim, está “à esquerda” do PSDB, que, por falta de outros interlocutores caminhou, nesse mesmo intervalo, para a direita, representando-a, sintetizando suas bandeiras melhor do que o faria o PFL/Democratas em outras eras…
É uma questão de “bandeiras”. Em relação a elas, pode-se dizer que a eleição foi bastante “petificada” este ano – haja vista que a metade (5 de 10) candidatos era proveniente, em algum momento de suass carreiras políticas, do PT – vamos lá: Dilma, Marina, Luciana, Eduardo Jorge e Zé Maria é ou já foram do PT. E eu nem contei com o PCO (que eu não sei se saiu do PT ou não). Em suma: a esquerda esteve bem representada, e agora é, bem ou mal, representada pela Dilma. É minha percepção.
Mas temos que ver quais bandeiras vc defende. Pelo que li acima, há eloquentes exemplos, são bandeiras da direita. Não há qualquer problema nisso. Minha mãe é assinante de Veja, vota no Aécio e não se preocupa em embasar, em justificar tão bem quanto vc esse ato, que não precisa ser explicado (mas pode ser, se vc quiser, é claro, como quis). Não há razão para vergonha.
Agora, vejo na sua leitura um ponto de vista “de dentro do governo”, que se apega a malfeitos “no varejo” que presenciou, e que significa uma coisa, pelo menos: que vc é um locutor privilegiado, pq tem amigos no governo ou dele participa. Todos nós somos. Mas isso é “varejo”, não decido meu voto por esses fatos. Já participei do governo do Arruda, foi só uma experiência (a minha, única) e não a comparo com a de hoje. Nâo a comparo mesmo. Isso não importa (não pra mim). Mas se quer saber: sofri muito mais assédio moral no governo daquele senhor, do qeu no desta senhora. Mas não é isso que me faz decidir meu voto.
Acho desnecessário vc sentir vergonha do seu ato. O voto é um pra cada um exatamente pra isto: para que “cada cabeça” tenha “uma sentença”. Isso eu respeito, com a “autoridade” de quem foi um dos participantes do “debate mais civilizado do Facebook” (comentário de um amigo meu sobre minha conversa com outra amiga, acerca de uso da máquina nas eleições, segurança da presidente e reeleição, foram os temas tratados na tal “civilizada” conversa). Eu respeito 100% do que vc pensa, e acho que embasa o seu voto… em Aécio! E respeito o direito q vc tem de defender essas ideias.
Agora, se preferir não votar, penso que a maior parte dos destinatários do seu e-mail (que não nos lê, salvo duas exceções, Lela e Dili, mais próximas) irá agradecer, porque prefere que o Ahésim tenha menos votos…
Fique em paz com sua decisão, vc não nos decepcionará de nenhuma maneira.
um beijo democrata,
Maurício

29/10/2014 – Eu não sou Levy Fidelix, não!

Mauricio, se respondo sua mensagem não é por retaliação ou algo assim. Muito ao contrário é para agradecer a gentileza de ter respondido a minha, ainda mais com inteligência e sensibilidade, coisa rara neste momento em que “irmão desconhece irmão”, como diz Paulinho da Viola. Não que algum irmão tenha me desconhecido, mas a falta de qualquer resposta da família, salvo as honrosas exceções de você e da  Tia Myrinha, pode ser um indicativo de a que ponto chegamos nessa polarização infeliz a que a campanha de 2014 nos empurrou.

Mas você, não. Você compareceu e se dispôs ao debate – e é isso que valorizo!

Acima de tudo o que escrevo agora talvez seja mais para mim, para ter clareza a respeito de certos pontos de vista meus, mais do que realmente para interlocutores.

Pois bem, vamos lá.

Eu não tenho antipatia ou sentimentos negativos contra homossexuais. Ao contrário, eu os respeito e defendo, tanto quanto aos garimpeiros do Madeira, aos moradores de rua do Anhangabau, aos posseiros do Paranapanema, aos seringueiros do Purus, aos anões albinos…

E assim deve ser em relação a todas as minorias na Democracia, para que a maioria não usurpe sua condição majoritária e não os sufoque ou persiga.

Mas veja bem. Se um gay apanha ou é morto na Praça da República, o mundo vem abaixo. E deve vir mesmo – nada mais correto. A questão é: se no quarteirão ao lado um mendigo é queimado, se um jovem negro é baleado pela PM, ou se um Sem Terra é emboscado por capangas no Pará, o mundo vem abaixo igualmente? Não vem. Tudo merecerá notícia na página policial dos jornais. Mas alguns crimes parecem ser mais “crimes” do que outros.

Homofobia existe. Mas o que dizer da “fobia” contra pobres, contra negros, contra os diferentes e divergentes em geral, que existe em nossa sociedade?

A meu ver, a sociedade brasileira não é homofóbica; é violenta! Ou pelo menos compactua serena e cordialmente com a violência. Morre em acidente um jovem em Ipanema e todos se comovem; morrem 10 jovens pobres numa chacina na periferia e todos acham normal.

Isso então significa, então, que deveríamos “criminalizar” a tal da homofobia? E as outras formas de “fobias”, não mereceriam, cada uma delas, um pacote normativo específico?

A resposta é não! Existem leis no Brasil e uma delas, o Código Penal, é suficientemente abrangente na penalização da violência, seja ela contra brancos ou negros; ricos ou pobres; gente da zona sul ou da periferia; hetero ou homoafetivos; jovens ou velhos; mulheres ou homens; sulistas ou nordestinos etc.

O problema é que, por algum motivo (que não sei bem qual é, embora suspeite..), o poder de vocalização de alguns grupos é imensamente maior do que o de outros – e isso não tem a ver com a dimensão quantitativa da “minoria” a que pertencem. Tem a ver com fatores simbólicos. Talvez alguém mais crítico falasse até de uma “homofilia” que se antepõe, reativamente, à tal “homofobia”. Isto é tema para antropólogos, filósofos e sociólogos – não me atreverei a ir além. Uma frase que sintetiza tal dilema, ouvida de Adib Jatene, com quem trabalhei nos anos 90: “o grande problema do pobre é só ter amigos pobres”.

E o que o PT ou a Dilma têm a ver com isso tudo? Diretamente, nada. Mas penso que na verdade eles têm, sim, alguma responsabilidade, não por terem criado, mas por incentivarem – e muito – ao longo de seus governos uma “lógica de militância”, que não tem muito a ver com o interesse coletivo real. Isso em si poderia ser um fato auspicioso, que nos remete a exemplos históricos espetaculares. Mas o problema é que nem tudo é assim tão brilhante neste terreno. A “lógica de militância” divide o mundo em pedaços e, a partir daí, confunde “o mundo”, em sua totalidade, com cada “pedacinho” que se cria a partir dele… Essa turma não costuma admitir meios-termos, funcionando muito na base do preto no branco e do “oito ou oitenta”. Não costuma ver, ainda, o “outro lado” que existe em quase tudo que seja obra humana, apesar de exemplos históricos que saltam à vista. Aliás, “história”, para os militantes típicos, é algo que deve ser considerado apenas se mostrar argumentos favoráveis àquilo pelo que se milita; caso contrário, passa por mero produto de manipulação de militantes contrários ou, de forma mais genérica, “deles”, dos “homens” – espécie de entidade mítica demonizada no mundo militante.

Tomo exemplos retirados de meu campo de atuação. Na saúde, é bastante curiosa como a lógica dos militantes identifica os que necessitam da ação do sistema de saúde, indicando, um a um, os beneficiários pelos quais se milita: mulheres, crianças, idosos, população negra, população indígena, comunidades quilombolas, populações do campo e da floresta, ribeirinha, LGBT, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiências, patologias e necessidades alimentares especiais. A lista contempla até os ciganos. Nada contra estes últimos, é que não sei exatamente qual o problema de saúde específico que detêm, salvo o fato de que muitos deles (acho que nem todos) são pobres e, portanto, simplesmente portadores de carências que coincidem com aquelas reclamadas pelo conjunto igualmente pobre da nação. Mas a pergunta que se recusa a calar é: precisaria existir uma política específica para cada grupo?

Agora, se é pra falar de pensamento conservador vamos falar de quem realmente tem significância neste campo, o que não é o caso do bufão que atende por Levy Fidelix. Falemos de Bolsonaro, que teve quase 500 mil votos. Este sim, é de direita! Maldito, aliás, bendito Bolsonaro, que marca terreno na política brasileira onde todo mundo se diz de esquerda, Dilma e Aécio incluídos.

Fique tranquilo, não votarei nunca no Bolsonaro, apenas pego o exemplo para reduzir este Fidelix – lembrado por você – à insignificância que lhe é genética e de onde não deveria ter saído.

Em resumo, numa certa idade – e principalmente vivendo no mundo em que vivemos – a gente acaba por abandonar e até menosprezar os antigos rótulos de “esquerda” e “direita”, “progressista” e “conservador”, “politicamente correto” ou “incorreto”, em troca de algo que pode não ser nada operacional, mas nos permite um pouco de paz com a consciência: tentar ver o mundo de forma independente, com olhos abertos e a mente liberta dos rótulos e dos preconceitos.

Se quiser botar pra circular esta minha “pensata”, fique á vontade.

Com respeito e carinho.

Seu Pai.

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22/07/15 – Voltando, após longa pausa…

Disse Guimarães rosa: “o Mundo não muda, só vai ficando piorzinho…” (ou algo parecido): os temas do dia, da semana, do mês, de sempre, o confirmam: maioridade penal; a chantagem do Congresso; a Dita-Cunha; as safadezas dos políticos; a tapação do sol com a peneira etc. Mas pego pra exemplo a maioridade penal. Confesso que não sou contra, em princípio. quem pode votar pode também responder pelo que faz de errado. O problema não é este e nem tão simples. A discussão que está no cenário é pobre. Filtrada pelo excesso nauseante das  ideologias. De um lado os que são a favor, de olho nos votos da classes médias assustadas e “envejecidas”. De outro, os que são a favor desde a respectiva minoridade. De outro, ainda,. os que tiveram filhos, amigos ou parentes assassinados ou violentados pelos tais pivetões. Eu, modestamente, acho que o assunto tem que ser discutido, só isso. Sem os filtros da ideologia, do ódio, do sofrimento pessoal. Pensam muito nos mais pobres numa hora dessas. Mas tem muito filho de papai que atropela e mata e continua solto, por ser “de menor”. Só para lembrar de um discussão, já pretérita, mas marcada por vesguice semelhante, remeto aos “provões” da década passada. Muito Piaget / Paulo Freire reencarnados ficaram atiçados. E hoje, o que se vê, é o sucesso das seleções pelo ENEM. Até a USP aceita, imaginem só. Muita ideologia e poucoas idéias – este é um dilema da contemporaneidade.

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25/08/2015 Existe intolerância religiosa no Brasil de hoje?

Existiria intolerância religiosa no Brasil de hoje? Assunto que parecia morto nas dobras da História de repente volta à tona. Não sem motivos, pois aqui e ali eclodem casos concretos. Isso, forçosamente, nos leva a tentar fazer comparações com o racismo. No Brasil, até mesmo por intepretações apressadas da obra de Sérgio Buarque de Hollanda, muito se fala daquela suposta “cordialidade” inata do brasileiro. Na questão racial, entretanto, nada mais falso. É a nossa maneira de dizer que não somos exatamente racistas, mas preferimos que os não brancos reconheçam e permaneçam cientes e zelosos daquela especial posição que a cor da pele lhes impõe, ou seja, no andar de baixo.. Na questão religiosa, entretanto, a questão, a meu ver, em outra. É claro que ao longo de nossa história, judeus, maçons, protestantes talvez, sentiram o peso do catolicismo ibérico e inquisitório. Mas isso foi no passado, já remoto. Hoje, intolerância religiosa tem nome, cpf, fator rh e endereço: a miríade de igrejas-negócio neopentecostais que se espalham pelo Brasil a fora. Poderosíssimas, por sinal, detentoras até mesmo de uma “bancada evangélica” nas Assembleias e no Congresso nacional, que prega, além da prosperidade (para quem contribui com o dízimo) teses tão arcaicas como a negação o casamento homoafetivo, a proibição do aborto, a liberdade de crença – ao mesmo tempo que aderem ao governo – qualquer governo – desde que lhes sejam contempladas as crenças e ideologias (principalmente aquela que diz respeito à prosperidade – dos pastores e dos representantes que elegem, fique claro!). Pois bem, concluindo: os casos de intolerância religiosa com que nos deparamos, cada vez mais frequentes, por sinal, não tem outra origem: os cultos neopentecostais, a manipulação dos fiéis pelos pastores empresários. E o pior: Dilma, Alckmin e outros (nem falo do Cunha…) babam para esta gente e comparecem, como se fosse coisa séria, até mesmo à inauguração salomônica do grande templo de São Paulo, monumento erigido a uma suposta “teologia da prosperidade” e, principalmente, ao mau gosto… Deus (não o deles) nos ajude!

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