A história de Jacó

 Jacó, o vaqueiro desta história. Sim, ele mesmo, Jacó da Vereda Alta, filho de Isaque e neto de Abrão Borges. Jacó gostava de Raquel, filha de Lesbão, fazendeiro assentado no Buriti Seco. Jacó não era de enxada e foice, tinha orgulho de seu trato com o gado bravo, peão corajoso, segundo todos que o conheciam, com fama assentada da Vereda Alta ao Buriti Seco e … Continuar lendo A história de Jacó

Coisas tão vãs e tão mudáveis

Aqui vão mais alguns contos. Dei a eles o título acima inspirado no seguinte soneto de Sá de Miranda, contemporâneo de Camões.

O sol é grande, caem co’a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d’alto cai acordar-m’-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d’amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m’eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!

***

Sem maiores explicações.

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Humanos em demasia…

Persisto na veleidade de escrever contos. Podem me criticar pelo resultado insatisfatório. Mas indago: não é treinando que se aprende? Aqui juntei escritos meus ao logo do ano de 2023, nos quais, mesmo sem intencionalidade direta, contei histórias de gente diferente, para tentar ser sucinto. Inspiração? Casos de minha carreira médica, lembranças de fatos e de pessoas que conheci ao longo da vida, frutos de minha imaginação – tem um pouco de tudo isso. Este último ingrediente talvez seja mais constante do que os outros e isso com certeza indica um caráter menos auto-biográfico e mais psico-analítico nos meus escritos. Mas por favor vão desculpando, eu assumo que sou assim… Aqui vai uma dúzia de testemunhos sinceros disso.

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Conta de mentiroso (Sete histórias inventadas)

Incorrigível, eu. Persisto em minha veleidade de escrever contos. Ou talvez devesse usar outro verbo: perseguir? Mas não desisto. Isso me faz lembrar Augusto Matraga, o personagem de Guimarães Rosa, que repetida a todo momento em sua luta contra a maldade do mundo: vou para o céu nem que seja debaixo de porrete. Pois que venham a mim as pauladas da crítica, ou pior do que isso, de ser ignorado. Mas persisto, e apresento aqui estas sete histórias totalmente inventadas. Aliás, para falar um pouquinho de verdade, pode ser que mesmo esta invenção seja de fato inventada. Vão desculpando…

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As Três Graças

Sei que na história da Arte as Três Graças representam outra coisa. Mas por afinidade resolvi associar este nome para ilustrar esta reunião de escritos meus, que junta Contos, Crônicas e Poesias. É o resultado de pelo menos trinta anos de tentativas literárias, embora em relação aos contos minhas experiências sejam bem mais recentes, de apenas alguns meses. Como selecionei dez exemplares de cada uma de tais categorias, dei à coletânea este nome bem pouco literário: 10+10+10, embora fiel ao objeto apresentado. Ficam assim aqui registrados estes escritos, para a posteridade, ou para alguém apareça – e será bem vindo! – para me ler antes disso.

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Registrado nas Efemérides (e outras histórias)

Aqui vai mais uma pequena seleção de contos meus. Desta vez são dez. Começa assim… <<Destas ruas de pedras lisas, que tantos pés esculpiram, as feridas nos morros se fizeram menos mortais e as mangueiras inundaram tudo com o cheiro seminal de suas floradas; das gelosias dos casarões alguém viu, mas sobre isso se calou….>> Acesse: Continuar lendo Registrado nas Efemérides (e outras histórias)

Amor infernal

Que caso mais esquisito o que eu tive com aquela mulher. Eu chamaria aquilo de um negro amor, não como uma expressão racista (porque hoje esta palavra exige cuidado pra ser usada), mas como uma coisa que mesmo durante toda sua presença em minha vida eu só queria que acabasse e que fosse esquecida. Um sentimento que se tem, quem sabe, pelos mortos desconhecidos e incapazes de outra vez se levantarem. Pedras de um caminho que cumpria serem deixadas para trás.

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O Redentor

Não foi nada não, lhe asseguro. Os pipocos que o senhor ouviu não foram de briga de homem. É coisa minha mesmo, gosto de praticar a pontaria, quase todo dia faço isso. Agora, com o preço da munição pela hora da morte – desculpe a brincadeira – está ficando mais difícil, mas mesmo assim não deixo de dar meus tirinhos, sempre num barranco aqui do quintal, para não acertar ninguém – Deus me livre.

Já fiz disso profissão e acho que até criei fama. Mas agora o que me interessa são essas galinhas, essa horta de couves, algum leitão que engordo para o Natal. Armas quase não tenho mais, só uma zinha a Flobé, quase um cisco de carabina, brinquedo de menino perto do que já tive nas mãos, em tempos passados. Mas isso já acabou para mim, total: o senhor fique sabendo.

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