Conta um velho manuscrito…
Conta um velho manuscrito que um antigo Profeta, em certo dia, teve a ideia de fundar uma igreja. Ele se sentia humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja totalmente nova e distinta da anterior não seria o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez. E pensava ele: escritura contra escritura, breviário contra breviário. Terei o meu próprio ofício, com favores distribuídos à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja, uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim nem Maomé, nem Lutero, nem algum outro Salvador. E concluiu, de modo bem filosófico: há muitos modos de afirmar, mas há só um de negar tudo.
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