Pelos Sertões do Rio Doce

Dos três grandes rios mineiros, São Francisco, Grande e Doce, este último aí se tornou bastante notório apenas por dar nome à grande companhia mineradora (a qual, aliás, até já mudou de denominação). Nada de atravessar vários estados, alimentar grandes projetos de irrigação, atrair turistas em várias de suas paragens, possuir uma cachoeira monumental em sua nascente, gerar megawatts de energia para o progresso do país – coisas assim. Em todos esses quesitos, o Rio Doce é bastante modesto. Mas em compensação, é em suas margens, a meio caminho entre suas nascentes nas encostas da Mantiqueira e sua foz no Oceano Atlântico, que a sabedoria, a generosidade e o espírito público de Sebastião e Lélia Salgado criaram o Instituto Terra, através do qual uma enorme área devastada pela pecuária e pela agricultura predatórias está sendo recuperada, não só em termos do resgate de sua cobertura vegetal original, mas também quanto à facilitação do reaparecimento de inúmeros mananciais. Além disso, um centro de educação ambiental e treinamento agroflorestal, um potente viveiro produtor de espécimens da mata atlântica, uma magnífica atração turística que a região até então não conhecia, para não falar na marcante promoção de cidadania e da consciência ambiental. E, principalmente, ter se constituído em empreendimento que enche de orgulho, alegria e esperança a quem o visita. Acho que são motivos mais do que suficientes para alguém, como eu, sair de Brasília, pegar um avião para BH e depois enfrentar (melhor dizendo, curtir) dez longas horas em trem de ferro para lá se chegar. De fato, valeu a pena, e aqui relato um pouco do que vi e senti por lá.

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