Triste (mas nem tanto) Horizonte

Drummond se indagava: “por que não vais a Belo Horizonte? a saudade cicia e continua, branda: Volta lá.” Sem maiores pretensões de querer me comparar com o poeta-maior, devo admitir que às vezes tal pergunta também me passa pela cabeça. Assim como ele, vivi um tempo na cidade e depois me mudei, para voltar ali apenas esporadicamente. Neste aspecto, contudo, levo por assim dizer uma vantagem sobre ele, que viveu lá, ao que me parece, no máximo uma década, quando eu ali passei os primeiros 22 anos de minha vida. E, ao contrário dele, volto lá no mínimo duas ou três vezes ao ano, sem me fazer de rogado, por ainda ter na cidade filha, netos, irmãos, sobrinhos, e principalmente uma mãe. De modo que não me seria coerente proferir como ele um carrancudo: Não. Não voltarei para ver o que não merece ser visto, o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser. Confesso que às vezes me sinto assim, meio gauche com a cidade, portador de duas alegrias quando vou até lá: a de chegar e a de sair, não sei qual das duas a mais significativa. Mas não posso negar que ali passei anos bem felizes, mas não somente isso, foi nela que pude fazer toda minha formação escolar, profissional, intelectual, amorosa, espiritual. No meu caso particular, com efeito, não dá para esquecer aquela urbe provinciana saudável, de carnes leves pesseguíneas e para tanto, realmente, nem preciso me esforçar. Penso que um pouco de minha sintonia (não direi admiração e nem mesmo amor…) com Belo Horizonte pude trazer à luz em meu livro de memórias Vaga, lembrança (ver link) e resgato aqui alguns trechos que falam da minha relação com esta cidade, afinal, detentora de um horizonte que definitivamente não me traz tristeza e muito menos algum amor mal resolvido ou destroçado. Aqui vai…

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