Feitos de Luis Miranda

Caramelo

– Sim, passou por aqui. Ficou assentado ali naquele canto, pediu uma cerveja, abriu o celular e logo desistiu dele, já que aqui não tem sinal e ficou durante uma hora por aí, aparentemente sem ter muita coisa a fazer. Ou melhor, foi ter com a cachorrada. Aqui geralmente se reúnem uns dez ou mais desses, vivem todos soltos por aí, os donos não cuidam, sabe como é. Tem uns mais ariscos, mas aquele grandão lá, o Caramelo, sem vergonha como ele só, logo se faz chegado a todo mundo que passa por aqui. Parece até que já nasceu junto com a pessoa, na casa dela, criado ali no angu de cada dia. Com este sujeito aí, a amizade parece que nasceu de imediato. O sujeito ficou agachado ali na beira do rio e logo o rodearam uns quatro ou cinco cachorros. No final ficou só ele com o Caramelo e ali estiveram por um bom par de horas, ele jogando pauzinhos para o danado do cachorro buscar, o bicho correspondendo. Pareciam de fato velhos amigos. Dali foi fazer uma caminhada e lá foi o Caramelo atrás dele. Deve ter dado uma volta grande, pois demorou bem mais de uma hora para aparecer de novo. O Caramelo sempre com ele, sem desgrudar. Voltou aqui e comprou um pacote de biscoitos de polvilho. Comeram juntos, ele e o cachorro. No final, dividia cada biscoito em dois e comia um pedaço e oferecia ao Caramelo a outra metade. A esta altura já tinha até botado um apelido nele, que o bicho aceitou como se já tivesse nascido com tal nome. Voltou à brincadeira dos pauzinhos, mas a esta altura o cão já queria outra coisa, parece que descansar, nada mais. Deitaram-se, então, na sombra daquela ingazeira e ali ficaram por mais de uma hora, num sono daqueles. Fiquei impressionado, o Caramelo é dado a intimidades com todo mundo que passa por aqui, mas daquele jeito eu nunca tinha visto. Quando desceu para conversar com as lavadeiras, lá foi o Caramelo atrás dele. Aquilo era amizade pra vida toda, parece. Deve ser um cara legal, acho que quem trata os bichos daquele jeito só pode ser gente boa.

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