Mensagem de Natal

AOS MEUS PRECIOSOS LEITORES (CASO EXISTAM) ENVIO ESTA MENSAGEM DE NATAL, ATRAVÉS DO TEXTO LUMINOSO DO ESCRITOR MINEIRO BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIROZ <<ERA SILENCIOSO O AMOR. PODIA-SE ADIVINHÁ-LO NO CUIDADO DA MÃE ENXAGUANDO AS ROUPAS NAS ÁGUAS DE ANIL. ERA SILENCIOSO, MAS VIA-SE O AMOR ENTRE SEUS DEDOS CORTANDO A COUVE, DESFOLHANDO REPOLHOS, CRISTALIZANDO FIGOS, BORDANDO FLORES DE CANELA SOBRE O ARROZ-DOCE NAS TIGELAS.    … Continuar lendo Mensagem de Natal

Calendário florístico de Brasília: cega-machado

No auge da seca o cerrado é capaz de coisas extraordinárias, como a florada do cega-machado. E ela não vem sozinha, entrando em cena ainda com os ipês exorbitando sua amarelice, concorrendo com os ipês-rosa, embora estes sem dúvida sejam mais modestos do que ela e antecedendo, por pouco tempo, a alvura de neve de outros ipês e também explosão variegada  de sapucaias e cagaiteiras. É um tempo de farra florística e cromática na qual ninguém ousaria botar defeito! Vamos ver o que nos dizem os tratados botânicos.

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José Olympio de Freitas Azevedo: este deixou sua marca

Tive inéditos momentos de “queridinho” quando cheguei em Uberlândia, para ser o professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias, em 1975, na recém-nascida e de nome redundante Escola de Medicina e Cirurgia. O fato é que agradei tanto, que no final do ano, tendo sido professor de duas turmas sucessivamente, uma “da vez” e a outra em atraso com a matéria, fui lembrado pela representação dos alunos no colegiado da faculdade como eventual indicado do corpo discente para a direção da instituição. Era demais para mim, bem o sei, mas devo dizer que me fez muito bem para a autoestima.

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Tributo a Ricardo de Freitas Scotti, com quem muito aprendi

Quando soube da passagem deste meu amigo, procurei logo saber informações biográficas mais detalhadas sobre o mesmo, pois gostaria de homenageá-la aqui neste espaço. O Conass, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, em cuja construção ele teve participação fundamental, me atendeu e me municiou logo sobre tal pedido, mas cheguei à conclusão de que não precisaria dispor de tais dados, pois o que realmente fazia sentido para o meu relato era o que a memória me trazia de maneira farta, sem outros adereços.

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Dioclécio Campos Junior: in memoriam

Eu o conheci nos anos 80, quando vim a Brasília negociar recursos para a saúde em Uberlândia, na condição de secretário de tal área na cidade. Ele me recebeu em um prédio do Ministério da Saúde na Asa Norte, já de início me oferecendo a sensação de que éramos velhos conhecidos, embora fosse a primeira vez que nos encontrávamos. Aquilo era apenas seu jeito de … Continuar lendo Dioclécio Campos Junior: in memoriam

Profissão Médica no Brasil: um triste horizonte…

Eu me formei em medicina na UFMF em 1971. Cliniquei por alguns anos e depois resolvi me dedicar à Saúde Pública, tendo trabalhado em órgãos de gestão do SUS nas três instâncias da Federação, com destaque (e orgulho de minha parte) de ter sido, por duas ocasiões, Secretário Municipal de Saúde em Uberlândia. Participei das lutas da criação do SUS no país, nos anos 80 e 90. Por que estou dizendo tudo isso? Já nem sei mais… Melhor me calar…. Recentes acontecimentos envolvendo a profissão medica no país me deixam não só aborrecido, mas acima de tudo quase me obrigam a um silêncio envergonhado. Falo das recentes eleições para a composição, a partir dos estados, do Conselho Federal de Medicina. O que se viu ali representou o ápice de uma gestação ofídica, que já se denunciava desde os alvores da era bolsonarista, ou seja, a conivência e adesão gratuita e desavergonhada dos conselhos de medicina, capitaneados pelo CFM, ao negacionismo, ao reacionarismo e ao arrepio de diversas conquistas culturais e sociais da sociedade. Com efeito, de Norte a Sul do país, dos confins amazônicos aos enormes litorais, o que se viu foi a escolha, por parte dos médicos do país, de uma maioria de indivíduos bisonhos, conservadores e cegos às aspirações da sociedade . O bolsonarismo e seus efeitos deletérios, com efeito, não foram derrotados em novembro de 2022. Qual fênix, ou abutre, embora chamuscado, ensaia seus voos de mau agouro por toda parte. Não somos todos assim, nós médicos, claro. Mas agora, mais do que nunca, temos que buscar e nos apoiar naqueles que honraram as tradições de humanismo, de apego à ciência, de compromisso social que a medicina deveria carregar. Gente como Drauzio Varela, para falar de quem ainda vive e também Noel Nutels, Moacir Scliar e muitos outros, que já não estão mais aqui. Entre estes últimos aproveito a oportunidade para homenagear um médico especialmente notável: Mario Magalhães da Silveira.

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Pavana para uma Princesa Morta

Ela nos chegou em um dia de abril, quase 10 anos atrás. Veio desconfiada, com o rabinho meio recolhido ao meio das patas, o olhar atento a tudo que ia em volta. A desconfiança durou pouco, entretanto. Quando percebeu a receptividade dos três humanos que a esperavam, um grande, que ela logo percebeu ser o Alfa e dois pequenos, menino e menina, relaxou e se entregou. Encontrando a porta do carro aberta, subiu no banco dianteiro imediatamente, como se ali fosse o lugar dela, desde sempre.

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Mais um que se vai…

Quando vejo as fotos feitas por um fotógrafo itinerante, que atendia pelo curioso nome de Pantaleão Alcaraz, e visitava o Colégio Estadual (e talvez muitas outras escolas também) para documentar as turmas, a cada ano, surpreendo-me com o fato de que apenas me lembro do nome daqueles adolescentes, perfilados junto a suas carteiras escolares, em poses ora circunspectas, ora apalhaçadas. Mas pelo menos de um ou dois desses colegas sempre me lembro, e entre eles Saulo da Matta Viana Barbosa, ou Saleba, que fez comigo a quarta série e mais algum outro ano, qual, exatamente, não me lembro mais. E há uma razão muito simples para tanto: ficamos amigos na ocasião e, mais do que isso, voltamos a nos encontrar em Brasília, muito tempo depois, reatando a velha amizade da juventude. Além disso, éramos relativamente vizinhos, ambos habitando o vasto e emblemático território da Barroca, em BH. Eu na rua Selênio, já na vertente para a Nova Suíça e ele nos altos da Cura D’Ars, próximo à antiga caixa d’água. Isso nos possibilitava voltarmos juntos das aulas, caminhando, apesar da longa distância e em pleno sol de meio dia, bem uns 4 km entre o Santo Antônio, onde ficava o Colégio Estadual e a nossa Barroca. E nem é preciso dizer que naqueles périplos peripatéticos bem que nos esforçamos em resolver os problemas, seja do colégio, da Barroca, da cidade ou mesmo do mundo. Saulo era mais lido do que eu, de modo que eu apreciava, de fato, sua companhia, entre outras razões para me ilustrar. Mas a verdade é que possuíamos forte sintonia um com o outro, daquele tipo que não há como explicar muito.

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Chico e a Revolução dos Cravos

Portugal entrou pra valer em nossa ultimamente. Lula esteve lá, Chico recebeu o prêmio que a horda fascista lhe quis sonegar e a Revolução dos Cravos fez 50 anos. Adoro este país, tanto que nos últimos 10 anos estive lá nada mesmo do que cinco vezes. E quero voltar outras tantas, ora se quero! Aqui mesmo no meu blog já publiquei diversos textos sobre essas minhas viagens (ver link). Sobre Lula e Chico não há muito o que dizer: a imprensa e muitos de nós já disseram tudo. Os direitistas de lá e de cá também, mas não vale a pena ouvir e muito menos valorizar suas perorações, caso para psiquiatras, quando não veterinários. Mas Chico, esta rara unanimidade – à qual me associo – na minha visão cometeu um equívoco décadas atrás, quando resolveu refazer a lindíssima letra de Tanto Mar, para acrescentar uma nota de desgosto com o rumo que a revolução tomara. Disse ele: já murcharam tua festa, pá. Tenho minhas dúvidas se foi realmente assim. A sobredita Revolução dos Cravos foi, na verdade um golpe militar (para o bem) que encerrou a ditadura salazarista. De fato, não só Chico Buarque ficou contente. Nós todos, o que amamos a Democracia, ficamos alegres e esperançosos de que no Brasil houvesse algo igual, sem militares, claro. Aliás, militares, como se sabe, costumam pegar e não largar mais sua presa… Mas pouco tempo depois, o nosso Chico coloca na canção seu sentimento de decepção. Ele se referia à derrota dos comunistas e dos militares de esquerda nas primeiras eleições gerais depois do golpe. ele não gostou de tais mudanças, mas na verdade apenas aconteceu o que é comum e até desejável nas democracias que fazem jus a tal nome: a fila andou e o poder mudou de mãos, fazendo rodízio entre centro, centro-direita e centro-esquerda – e vem sendo assim desde então. Melhor para eles… Chico, um gênio da melodia e das letras, prêmio Camões de 2019, pelo menos neste caso não teve a clarividência necessária a uma boa análise política. Mas ele, que produziu tantas coisas boas na vida, tem créditos de sobra, pode errar um pouquinho, está perdoado…

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Zaire, uma vida que valeu a pena

Nunca deixarei de lembrar, com muito orgulho, o fato de ter feito parte das duas administrações municipais capitaneadas por Zaire Rezende em Uberlândia, ente 1983 e 1988 e depois entre 2001 e 2004, que representaram, para a cidade, o surgimento de um novo modo de operar a gestão municipal, em termos de saúde e de outras políticas públicas, revertendo nestes dois momentos, com maior sucesso no primeiro deles, o modo tradicional desenvolvimentista e especulativo de governar a cidade, como se ela fosse uma capitania hereditária e não um lugar de vida para cidadãos verdadeiros. Eu conheci este sujeito singular através de uma apresentação formal, feita por seu quase primo, ou marido de uma sua prima, José Olympio de Freitas Azevedo que já era meu amigo. Logo pude saber que era médico, como eu, embora mais velho; natural da terra e de família tradicional de Uberlândia; formado no Rio de Janeiro e que passara mais de vinte anos fora da cidade, trabalhando no interior de São Paulo, e que agora voltava, para continuar a clinicar, como gineco-obstetra em um dos hospitais da cidade, onde já tinha amigos e parentes médicos. O que eu não fiquei sabendo naquele momento é que ele tinha aspirações políticas, ainda não totalmente reveladas na ocasião, mas confirmadas para mim algum tempo depois. Zaire nos deixou neste 31 de maio. Foi uma pessoa que me marcou profundamente durante a vida, como chefe, como amigo, como exemplo de cidadão prestante, humanista e responsável – pra dizer pouco. Nas linhas abaixo, eis como eu o deixei registrado em minhas memórias.

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