Anjo ou Demônio
(sobre uma gravura de Escher)
Um anjo vai e o que retorna é um demônio
ou ao contrário, logo o anjo está de volta
fazendo o cujo depressa ir-se embora.
É assim que vejo, antes fosse sonho,
é tudo tão confuso se a mente anda solta,
ser anjo, demônio, arqui-diabo, arcanjo?
Não sei, ao certo, depende do que espelho
se chega à noite ou rompe luz da aurora.
Se vem a luz e cega, coração prefere a treva,
não sabe o que é paz, apenas sente o relho
de satã que surge, se longe vai o anjo.
Assim entre dois fogos, lembro-me de Eva,
entre a cobra e o criador, sem ver outro caminho.
Não sei do paraíso, é algo que não tanjo,
E sem ter qualquer guia, só vejo o breu da selva.
Assim vou caminhando, de pés e mãos atado,
Prometeu que teve o fígado há muito devorado,
não tendo o que mais dar, desejo apenas
(pouco importa): ser anjo ou ser demônio.
Mas sê-lo por inteiro, sem tantas duras penas.