Homenagem a um amigo: Pedro Tauil

Tirada com Lumia Selfie
Tirada com Lumia Selfie

Há dias estive na Universidade de Brasília para fazer parte de um evento muito especial. Meu amigo Pedro Tauil recebeu o título de professor emérito da UnB, honraria concedida a poucos. Na ocasião, muitos elogios foram feitos a Pedro, principalmente pelo colega formalmente encarregado, Mauricio Pereira, também epidemiologista e amigo de Pedro há muitos anos. Aos encômios de Maurício não tenho nada a acrescentar; só posso fazer coro – e com muito prazer, além do sentimento de compartilhá-los inteiramente, “em gênero, número e grau”.
Entretanto, creio que ficou faltando dizer alguma coisa, ainda, a respeito de Pedro. Os que o homenagearam – e ele próprio – foram econômicos em relação a um fato da vida de meu amigo que eu sempre julguei muito marcante. Volto ao passado para comentá-lo…
Em 1967 ou 1968 eu cursava os primeiros anos de Medicina na UFMG e como todo estudante tinha grandes dúvidas sobre o que gostaria de fazer depois de formado. Não que fosse assunto premente, eu ainda tinha pelo menos cinco anos de faculdade pela frente. Mas de alguma forma aquilo me repercutia na mente.
Um dia abri uma revista médica, creio que a famosa “O Hospital” (que já não mais existe) e me deparei com um artigo sui geneiris, diferente daqueles relatos de casos e provas terapêuticas tão comuns nas revistas médicas de então e de sempre. No texto, assinado por quatro ou cinco autores, se narrava a epopeia de um grupo de médicos, formados recentemente pela tradicional faculdade de medicina da avenida Doutor Arnaldo, ou seja, da USP, para quem não está acostumado ao jargão profissional da área.Esses moços e moças haviam optado por sair do grande centro onde se formaram para cair na real, ou seja no Brasil profundo. E foram dar em Porto Nacional, então Goiás, hoje Tocantins. A cidade era pequena, remota e acima de tudo, pobre. Ali se incorporaram ao hospital já existente da Fundação SESP (também já extinta) e começaram a lida. Faziam de tudo, para todas as idades e condições. Algumas das esposas eram de outras áreas técnicas, mas logo se incorporaram ao trabalho em saúde. Tinham o apoio dos visitadores domiciliares da SESP. Em pouco tempo já tinham se articulado com a comunidade, participando de reuniões, cursos, treinamentos, visitas domiciliares e atendimento rural. Mais do que uma articulação técnica aquilo passou a ser uma integração vivencial, um vínculo robusto. Certamente as dificuldades não foram poucas, entre elas as dificuldades de aceitação, a intolerância dos políticos, a cultura vigente em relação à saúde e ao trabalho em equipe etc.
Mais tarde passaram também a receber alunos de medicina da Universidade Federal de Goiás. O estágio em Porto Nacional passou a ser um privilégio disputado pelos estudantes. Alguns foram, gostaram e ficaram.
Aqui entra minha história. Eu fiquei encantado, embasbacado com aquilo. Pensava: queria algo assim em minha vida profissional. Não consegui de imediato. Os compromisso de época de formatura – eu já era casado – acabaram me fazendo ficar em BH mesmo. Um concurso para auxiliar de ensino na minha faculdade me atravessou o caminho e eu lá fiquei. Até que, dois anos depois, cumpri parte do que aquela influência especial, de Tauil e seus colegas, me colocou na cabeça. Então parti para o interior, para ser clínico. Mais dez anos e eu dei um novo passo adiante: fui fazer um curso de especialização em Saúde Pública, na ENSP, Rio de Janeiro – e minha vida nunca mais foi a mesma.
Obrigado ao cientista, ao pesquisador, ao professor, ao gestor e, principalmente ao amigo e (sei que ele não apreciará o termo…) meu GURU, PEDRO LUIS TAUIL.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s