Um moço muito branco (tema rosiano)

MOÇO BRANCOQuem será este rapaz

que se mostra tão altivo,

mas de maneiras  gentis,

parece mesmo um menino,

anda sempre ao Deus dará

ninguém sabe seu destino.

Veio, quem sabe de onde?

Apareceu, nada mais.

Depois dos dias de enchente,

natureza transtornada,

rios correndo prá trás

chega o moço, simplesmente.

Só o Preto soube como

e com ele se entendia.

O pobre escravo contava:

raios riscaram o céu,

redonda coisa pousava,

só se ouvia um escarcéu.

No Preto ninguém punha fé.

Pode então  homem algum

vir do céu como num halo?

Moço branco era só um

para estar em toda parte,

todos queriam tocá-lo.

Viu-o a filha de Duarte,

bela moça com mau pai,

matador com gana e arte.

Dele logo se encantou.

O moço, com inocência,

o seio da moça tocou.

Tem que casar – grita o pai –

assim não pode ficar!

Moça quieta, sem lamento

mais parecia sonhar.

Duarte, forçado por outros,

retrocedeu seu intento.

Passados uns dias o Moço,

deu a um cego uma semente

jamais vista e conhecida.

Em tempo, veio a brotar

formou pé de estranha flor

gerando perfume sem par.

Muito espanto então se deu,

até que em noite sem lua,

no alto do morro, fogueiras

qual  imenso camafeu,

o Preto e o Moço fizeram,

como sinais para o céu.

Tarde, houve quem visse

e contou, ninguèm deu fé:

a coisa avoante chegou,

o moço se pôs de pé,

como se em luz subisse

a nave então o levou.

Dele ficou a presença

em todos que o conheceram.

Duarte virou penitente,

a moça nem se casou

mas conheceu a alegria

do moço, o brilho ausente.

 

 

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