O Tio Sam deve ser realmente a Polícia do Mundo?

tio-samComo produtos dos Estados Unidos da América (onde já estive por três vezes, sempre no circuito NY – Washington – Nova Inglaterra) aprecio a música, a literatura, o cinema e outras formas de cultura. Destaque para a música, que nos trouxe Bob Dylan, Louis Armstrong, Cole Porter, BB King, Simon & Garfunkel, Frank Sinatra e muitos outros. Na literatura, John Steinbeck, Robert Frost, William Faulkner, Ernest Hemingway, Mark Twain, à guisa de simples tira-gosto. Em termos de cinema, pode-se falar mal de Hollywood, mas são incontáveis os grandes filmes produzidos ali, além dos variados estúdios e diretores paralelos e alternativos que abundam no país, graça à liberdade de opinião, que bem ou mal, ali está presente.

Nem tudo são flores, é claro, no Paraíso Yankee. Basta falar dos dementes que sempre aparecem praticando matanças coletivas, que constituem quase um símbolo do país, ao lado da Estátua da Liberdade e dos arranha-céus de Nova Iorque. A riqueza, ali, contempla muitos, sem dúvida, mas deixa ao largo algumas dezenas de milhões de cidadãos. Na saúde, por exemplo, mesmo o nosso combalido SUS seria bem vindo por lá, pelo menos pela parte mais empobrecida, estimada em mais de 40 milhões de pessoas, que são carentes de qualquer tipo de assistência médica.

Aspecto particularmente negativo no domínio mundial americano é a a belicosidade histórica da América, fato que une historicamente democratas e republicanos, às vezes praticada em nome do bem, como foi na Segunda Grande Guerra, outras vezes nem tanto, como aconteceu na mal explicada invasão do Iraque.

Guerra hoje, ontem, amanhã. E sempre? Neste campo, sem dúvida, são grandes os prejuízos que os EUA causam ao mundo.

Na visão de muitos, a guerra americana permanente é o grande problema. Desde os anos 50 se fala em um complexo industrial militar ali presente, capaz de influenciar o próprio Congresso e promover intervenções all over the world.Com facilidade – e algum grau de veracidade – se acusa os Estados Unidos de se arvorar em verdadeira polícia do mundo, arbitrária, discriminatória e violenta, além de auto-instituída, na visão de muitos críticos internos e externos, tendo o intelectual americano Noam Chomsky como um de seus porta-vozes principais. Caras como Chomsky, aliás, só teriam chance de expor livremente suas ideias em um pais da “maldita” extração ocidental, judaico-cristão, capitalista… Ou alguém seria capaz de imaginar alguém assim tão influente no Irã ou na Arábia Saudita?

Vejo gente encher a boca para acusar Tio Sam de quase tudo de ruim que acontece no planeta, desde a desestabilização de governos até a poluição ambiental; do desrespeito contumaz aos direitos humanos, ao assassinato premeditado de inocentes; do despejo de lixo cultural, às relações comerciais predatórias; da aposta na guerra versus a promoção da paz.

Na maioria das vezes, há razões para tanto, não nego. Mas às vezes também me pergunto se além da postura crítica dessas pessoas, persiste o fato de que muitas delas adorarem fazer compras em Nova Iorque e Miami,  passar férias na Disneylândia com a família, além de aqui frequentarem o Mac Donald’s costumeiramente.Ou seja, na hora de condenar o “lado ruim” de Uncle Sam são unânimes em seu espalhafato; quanto ao possível “lado bom”, se calam – e aproveitam! Cautela e coerência não fazem mal a ninguém…

De minha parte, sinceramente, preferiria viver em um mundo em que não houvesse conflitos étnicos, religiosos, culturais e econômicos. Um mundo sem terrorismo. Ou, pelo menos, que com relação aos eventuais terroristas não se utilizasse algum argumento de que os homens e caminhões-bomba são apenas uma resposta aos longos anos de dominação a que os islâmicos e outros povos foram submetidos pelas malévolas ”potências ocidentais” – Estados Unidos à frente! Ou seja, a matança criminosa de inocentes, como hoje acontece em toda parte, constituiria na prática uma resposta política que não deixa de ser legítima.

Mas o mundo de meus sonhos, infelizmente, não é o nosso mundo…

Com efeito, viver no Planeta está ficando cada vez mais perigoso. Qualquer ser humano, por mais insensível que seja, se horripila e se emociona com as cenas de crianças feridas ou mortas na Síria. É bem verdade que as balas perdidas no Rio de Janeiro, que às vezes ceifam a vida de outras crianças, não chegam a produzir efeito igual, pelo menos para nós brasileiros… Na Síria e no Iraque, os bombardeios russos e aliados contribuem para o morticínio. Mas analisando bem a situação de lá se pode ver, simplesmente, que o grosso da matança é “deles” contra “eles mesmos”. Como, aliás, sempre fizeram ao longo de muitos séculos. Russos, Americanos e Ocidentais em geral também contribuem para a mortandade, mas de forma um tanto modesta, perto do que é capaz a rivalidade tribal, política e religiosa que impera no Oriente Médio. E por essa hecatombe, eu que faço parte do mundo “branco, judaico, cristão, ocidental, etc” me recuso a ser responsabilizado.

Por mim, preferiria viver em um mundo que não carecesse de qualquer forma de polícia internacional.

Mas tudo é uma questão de escolha. Entre a expansão religiosa fanática do islamismo; a avalanche econômica totalitária chinesa; a histórica e reiterada barbárie eslava; o domínio policial intervencionista dos americanos – com que ficar? Se a escolha for apenas entre essas possibilidades, acho que fico com o policiamento estadunidense mesmo… For a while

Mas, de verdade, o que espero é que a humanidade tome tento e um dia encontre a fórmula da convivência pacífica e respeitosa entre os povos. Não sei se viverei o bastante para isso. Desconfio que não.

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