Pesquisa mostra que o número de portadores da doença cresceu 22%, seguindo tendência nacional. Para especialistas, um dos principais fatores para incidência do mal é o sobrepeso
Em seis anos, a incidência do diabetes no Distrito Federal aumentou 22%. No ano passado, 6,6% dos moradores da capital (165 mil pessoas) se declararam portadores da doença, enquanto, em 2006, o índice era de 5,4%. Os dados fazem parte da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, no dia mundial da doença. O aumento segue a tendência nacional, já que houve crescimento de 40% na quantidade de diabéticos no país: 7,4%, em 2012 (15 milhões), contra 5,3%. Embora a ocorrência da doença em Brasília seja menor que a do Brasil, o dado preocupa especialistas por estar relacionado à má qualidade na alimentação e ao sedentarismo.
A endocrinologista da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Luciana Bahia observa que os números são um alerta, por se relacionar também ao problema de peso. “O aumento da diabetes significa também o aumento da obesidade e das doenças relacionadas, como infarto e hipertensão, entre outras”, diz. Os números da Vigitel incluem as pessoas que nasceram com a enfermidade, chamada diabetes tipo 1, e aqueles que desenvolveram com o tempo, a tipo 2.
Segundo Bahia, os três principais fatores para adquirir a doença do tipo 2 são sedentarismo, genética e sobrepeso. A pesquisa apontou que, no Brasil, 75% dos diabéticos têm sobrepeso. No Distrito Federal, segundo a Vigitel, em 2006, 39,8% da população estava acima do peso (995 mil) e 10% era obesa (250 mil). Já em 2011, o número ficou ainda maior: 49,2% de brasilienses (1,2 milhão) com sobrepeso e 15% obesos (375 mil).
Na capital, a maior incidência de portadores da doença são mulheres, índice que também teve aumento ao longo dos anos: 7,9% em 2012 frente a 6,5% em 2006. No caso dos homens, o índice passou de 4,1% para 5,2%. O dado segue a tendência nacional. No Brasil, 8,1% do total de pessoas que se declararam diabéticas são mulheres, enquanto 6,5%, homens. A coordenadora regional de diabetes do DF, Patrícia Carvalho, afirma que a maior incidência em mulheres relaciona-se ao aspecto de elas irem mais ao médico, levando a um aumento de diagnósticos, e a questões hormonais também.
Carvalho ressalta, no entanto, que a principal causa da doença está relacionada ao estilo de vida. Por isso, é preciso trabalhar na prevenção. “No caso do DF, embora a população aparente cultivar hábitos saudáveis, ainda prevalecem os maus comportamentos.” A Vigitel mostra que há uma relação entre o nível educacional e incidência da enfermidade no país. Do total de diabéticos, enquanto 12,1% do total têm até 8 anos de escolaridade, apenas 3,8% possuem mais de 12 anos de estudo.
Tratamento
Causada por uma alteração na glicemia dos portadores, que ora já nascem com dificuldades de desenvolver insulina que metaboliza o açúcar, ora desenvolvem com o tempo, o diabetes pode acarretar uma série de complicações, como insuficiência renal e amputações, por exemplo. A enfermidade compromete também os olhos. Segundo a oftalmologista especialista em retina e vítreo Christine Lanssoni Zucatti, o principal problema de quem tem a doença é a retinopatia diabética, que causa a morte das células dos capilares da retina a longo prazo, levando à cegueira. “Muitas vezes, ela é assintomática. O paciente demora a perceber o problema e, quando percebe, a visão já está comprometida. Por isso, o próprio endocrinologista encaminha o paciente diabéticos para o retinólogo-oftalmologista especialista desde cedo”, explica. O acompanhamento é feito anualmente com os pacientes, a depender da situação de cada um.
De acordo com o estágio da doença desenvolvida, a pessoa pode ter de tomar insulina ou remédios diariamente, como é o caso da missionária Henriqueta Nogueira, 46 anos. Ela descobriu que era diabética há três anos e, desde então, busca mudar radicalmente o estilo de vida. “Como faço trabalho missionário, não tenho tempo para frequentar academia. Então, comprei uma bicicleta ergométrica e cortei refrigerante e salgados. Mas preciso diminuir ainda mais a quantidade de massa ingerida. Passei a consumir mais alimentos integrais”, conta. No caso de Henriqueta, não há necessidade de administrar insulina. Isso porque a missionária consegue controlar a doença por meio da alimentação e exercícios físicos.
Doce veneno
Confira o índice de pessoas que se declararam diabéticas à pesquisa Vigitel:
DISTRITO FEDERAL 2006 — 5,4% 2012 — 6,6%
Crescimento de 22%
Mulheres 2006 — 6,5% 2012 — 7,9%
Homens 2006 — 4,1% 2012 — 5,2%
BRASIL 2006 — 5,3% 2012 — 7,9%
Crescimento de 40%
Homens 2012 — 6,5%
Mulheres 2012 — 8,1%
Palavra de especialista
Por um futuro sem diabetes
Todos os anos, os profissionais de saúde que trabalham com diabetes unem-se para lembrar, no dia 14 de novembro, a importância da prevenção e combate à doença crônica, que exige disciplina e determinação para o controle. Quando diagnosticada, são necessárias mudanças em aspectos da vida que, no primeiro momento, causam resistências e até revolta por parte do paciente, como maior cuidado com a alimentação e o uso de remédios ou aplicação de insulina, além de visitas regulares ao médico. No DF, temos mais de 117 mil pessoas na faixa etária entre 20 e 79 anos, portadoras da doença, dos tipos 1 e 2. É a maior taxa desde 2007. No mundo, são 371 milhões de pessoas com diabetes. A metade delas desconhece o diagnóstico. Um perigo! Os melhores recursos, com formas mais práticas e simples de aplicação de insulina, agulhas melhores, medicamentos mais modernos, insulinas mais seguras são importantes, mas é imprescindível que a pessoa com diabetes e seus familiares tenham contato constante com uma equipe de médicos, nutricionistas e enfermeiros especializados em diabetes. Somente com o esforço dessas equipes multiprofissionais é possível colher os frutos do trabalho benfeito. Essa é a nossa missão diária e a nossa certeza de sucesso.Doutora Eliziane Brandão Leite, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes-DF
CORREIO BRAZILIENSE –15/11/2013
Reportagem de JULIA CHAIB e SHEILA OLIVEIRA