e vai parindo a cidade.
A rua do Ouro, a Rua do Chumbo
São o cordão do umbigo
Do ser que nasce aos urros
E rola pelo Córrego da Serra
Pelo vão rasgado no Curral
Chega fresquinho este vento
O barbatimão, estas quaresmeiras
Lembram o que um dia foi a serra
Que povoou a minha e a sua infância
E tantas infâncias mais
E era inteira a montanha
Com longa e espinhosa corcova
De um animal pleistocênico
Era belo, ainda, o horizonte
Nem havia se entristecido
Como sentiu o Poeta.
A montanha parturiente
Pela brecha da Ferrobel
Pelo vão do Acaba-Mundo
Pela bainha do Taquaril
Vai expelindo a cidade
Pobre cidade, podre cidade
Que nasce, cresce
E já se amortalha
Antes da idade…
Na poeira das explosões de dinamite
Na zoeira louca das ruas antes calmas
Nas sirenes, nos gritos, nas buzinas
Nasce e agoniza a cidade
Cresce e sucumbe a cidade
e morre mais uma vez, e outra
Diante de nós aqui em cima
E com ela morremos um pouquinho
Sempre, um pouco mais
Viver e ressuscitá-la
Mesmo no ar de cristal
Vira apenas um exercício
De memória.