Eita! Ele chegou lá. Chico Buarque faz 70 anos. Isso significa que para mim também está próximo, pois quando eu cantava A Banda, nos gloriosos 60, ele regulava comigo na idade. Vai envelhecer – ou amadurecer, sei lá – tão bem assim lá longe! Chico é referência, é farol. É daqueles que, se de repente, por azar do destino. começar a fazer tudo errado, mesmo assim será perdoado, pelo que já fez de bom e de útil. Chico lírico, Chico militante, Chico romântico, Chico resistente? Prefiro todos, até mesmo o Chico que faz pouco agora na música, porque a literatura (que ainda me devo conhecer…) tomou conta dele. Eita Chico! Para homenageá-lo fui buscar o que para mim é um de seus melhores momentos – pouco conhecido, entretanto. . Súbito me encantou / A moça em contraluz / Arrisquei perguntar: quem és? / Mas fraquejou a voz / Sem jeito eu lhe pegava as mãos / Como quem desatasse um nó / Soprei seu rosto sem pensar / E o rosto se desfez em pó / Por encanto voltou / Cantando a meia voz / Súbito perguntei: quem és? / Mas oscilou a luz Fugia devagar de mim / E quando a segurei, gemeu / O seu vestido se partiu / E o rosto já não era o seu / Há de haver algum lugar / Um confuso casarão / Onde os sonhos serão reais / E a vida não / Por ali reinaria meu bem / Com seus risos, seus ais, sua tez / E uma cama onde à noite / Sonhasse comigo / Talvez / Um lugar deve existir / Uma espécie de bazar / Onde os sonhos extraviados / Vão parar / Entre escadas que fogem dos pés / E relógios que rodam pra trás / / Se eu pudesse encontrar meu amor / Não voltava / Jamais. É isso aí, o que todos queremos talvez seja estar onde os sonhos sejam reais, mas a vida não.