Nos dicionários de política essa palavra significa algo como “dimensão estatal do exercício do poder, condições sistêmicas e institucionais sob as quais se da o exercício do poder, relações entre poderes, sistema de intermediação de interesses, além de arquitetura institucional”, constituindo também “um atributo daquilo que é governado, isto é, a sociedade”. Na prática política brasileira tem significado diferente…
Millor Fernandes, sempre genial, inventou um dicionário especial, o “Dicionovário”, no qual você pode encontrar significados novos para palavras antigas ou mesmo significados ou palavras para coisas até então inexistentes.
Num suposto “dicionovário”, assim, a tal da governabilidade poderia ser algo como: investimento na capacidade de governar, através da ampliação de apoios materiais e simbólicos, realizada por meio de alianças que não afastam qualquer pessoa, grupo ou tendência ideológica, podendo ser celebrada, por exemplo, com o Cremulhão, com o Sarney, com o Barbalho, com o Cunha, com os Renans (pai, filho e demais), com o Não-sei-o-que-diga, com o Tinhoso, com o Capeta, com Demônio e o Diabo à quarta potência…
A conseqüência da tal “governabilidade” é clara. Já estava prevista no famoso poema atribuído a Maiakowsky: ela deixou que lhe pisassem o jardim noites sem conta; depois mataram-lhe o cachorro; hoje refestelam-se em sua cama e deixam meias e cuecas sujas pelo chão… e nem levantam a tampa da privada para mijar…
A “governabilidade” é a vaca sagrada dos tempos atuais no Brasil. Anda por todo lado, faz uma baita lambança e ninguém lhe contesta ou molesta.
Mas, sinceramente, acho que já é hora de ficarmos mais felizes tirando-a de nossa sala – a vaca, fique bem claro, não a Dilma! Nossa “presidenta” que fique até 2018, afinal de contas foi eleita – não com meu voto! – mas respeitar a democracia é bom e eu aprecio.
E aproveitando as metáforas vacuns: eu acho que esta vaca vai pro brejo (“the cow went to the swamp”, como dizia Millor Fernandes, autor da charge que ilustra este post).