Brasil já vai à guerra… Como se não houvesse tantos inimigos internos (externos, por certo, não há…), nossa presidente, mesmo rodeada de terríveis predadores e parasitas, escolheu o Aedes aegypty, com direito até mesmo a usar as forças armadas contra ele, O pior é que também este inimigo é poderoso, embora contra ele não valham chicanas de advogados ou manipulações regimentais. Agora, para piorar ainda mais as coisas, descobre-se que o foco da luta contra o mosquitinho, baseado em larvicidas e catação de latinhas pelos agentes de endemia, além de fumigações tóxicas, estava equivocado, há décadas. Não é para me gabar, mas eu já havia antevisto algo sobre isso há alguns anos. Vejam aqui minhas ideias datadas do remoto ano de 2001…
Cliquem aqui: ZIKA
Flávio,
Segue meus comentários sobre seu post no blog. Só tenho um reparo. Você diz abaixo que a reflexão é de 2001 (remoto), mas no texto está assinalado 2013.
Segue o texto com um abraço.
Mauro Márcio
Flávio,
Sua reflexão sobre a volta/permanência da dengue no Brasil me despertou para um paralelo da saúde com o desenvolvimento/subdesenvolvimento.
Como uma corrente ingênua do desenvolvimento dizia, e você ressalta isso, o subdesenvolvimento é uma etapa do desenvolvimento. Logo, estaríamos superando essa etapa e adentrando no novo mundo desenvolvido. A essa teoria se contrapunham outras, com destaque para a que dizia que o subdesenvolvimento (de uns) é produto do desenvolvimento (de outros).
Tenho a impressão que na saúde pública também persistiram essas ideias mágicas e simplistas de que chegaria o dia em que dominaremos o conhecimento e já existirá mais lugar para as epidemias, como a da dengue.
Hoje, em meio a globalização, já quase não se fala em desenvolvimento versus subdesenvolvimento porque o establishment não conseguir formular uma alternativa que, ao mesmo tempo, desse esperança aos pobres do ‘terceiro mundo’ e mantivesse o poder e a riqueza do ‘primeiro mundo’. Ante a quadratura do círculo, o establishment considerou melhor esquecer o velho paradigma e pensar que estamos num mundo melhor: Se não há solução, solucionado está, dizemos nós.
Fico particularmente impressionado como o Brasil, que se esforçou tanto para melhorar a qualificação da força de trabalho ao longo de ½ século , não consegue ‘sair do lugar’. Patina, patina e quase não evolui. Evidentemente, é uma grande vitória fazer funcionar uma sociedade de mais de 200 milhões no Hemisfério Sul desacreditado no Norte. Mas, para nós é muito pouco. Somos um país de renda média e quase mais nada. Não há uma evolução qualitativa que se realimenta na sociedade brasileira.
Agora mesmo estamos vendo um espetáculo deprimente: a politicagem dominando o cenário do Poder. Mesmo havendo uma tecnocracia bem estabelecida, uma plêiade de professores universitários de excelente formação, uma classe empresarial e trabalhadora organizada, e não vemos nenhuma luz no horizonte…
Recentemente, estive pensando: O ‘problema do desenvolvimento’ é uma agenda pós-guerra, pois antes, mais da metade do mundo estava formado pelas antigas colônias. Pois bem, em pouco mais de 50 anos, quantos países pobres passaram a ser considerados desenvolvidos? Que eu saiba, apenas um, a Coréia do Sul. Não entram na minha conta as Cingapura, os Hong-Kong, os Butão, ou estados ‘enriquecidos’ pelo petróleo. E a pergunta inversa: quantos países desenvolvidos deixaram se tornaram subdesenvolvidos? Provavelmente, também um, a Argentina. Com isso, posso concluir que todo o ‘esforço’ do mundo ocidental para o desenvolvimento praticamente não deu em nada. Não houve mudança. Nem a China, como 2ª potência econômica, pode ser considerada desenvolvida; ela, como o Brasil, é um país de renda média.
Não posso acreditar que poderemos ter uma política pública de saúde excelente num país cuja sociedade não inventa ou descobre mecanismos de convergência. Assim, como não posso acreditar que uma parte será boa quando o todo está contaminado.
É muito sugestiva o par de expressões que você usa (reaparecimento versus permanecimento) no desenvolvimento. Com elas posso indagar: a pobreza vai reaparecer na crise? Ou ela permanece oculta ou sublimada para reaparecer numa ocasião propícia?
De modo geral creio estarmos vivendo uma ideia de ‘relaxamento’ na medida em que nos falta um modelo social contrário e quase inimigo como era com capitalismo x comunismo. Não temos mais a obrigação de ‘defender o nosso’ (capitalismo) para evitar que sejamos ‘engolidos’ pelo comunismo. Ao não termos ‘um inimigo externo’ nos relaxamos e ficamos relativistas, ou seja, vale qualquer coisa. Isso vai dar na Era dos Direitos e num fatal enfraquecimento das regras capitalistas, daí a oportunidade de surgir vários ‘capitalismos’ ou outros sistemas. A concentração das crises nos países ricos é um sinal alarmante sobre isso. Desde a crise do petróleo, nos 70 do século passado, quando pela primeira vez os países ricos enfrentaram a estagflação, depois pela crise dos anos 90 e mais recentemente a partir de 2008, nunca tinha visto tanta crise no mundo rico. Nós, os pobres, agora, somos arrastados pela crise deles e não eles pelas nossas, como era a regra. O grande problema do capitalismo central é a deflação, o verdadeiro flagelo contra o capital. Por isso, os bancos centrais deles estão colocando a taxa de juros no vermelho pois se forrem contaminados pela deflação, o mundo acaba. De fato precisamos repensar o mundo.
Eu só discordo de sua citação final (o sábio aponta a lua; o tolo não vê mais que o dedo…) no seguinte sentido: o mundo precisa de sábios que apontem a lua; mas para isso bastam pouquíssimos sábios. O mundo precisa de milhões de tolos para encarar a rotina enfadonha do dia-a-dia e pegar no pesado. Se todos fossem sábios (para apontar a lua e ver a lua) vai faltar quem lute diariamente pela sobrevivência. É como dizem na alta administração das empresas: ‘estou de saco cheio de estudos e louvações sobre a liderança. O que seriam dos líderes se não existissem os liderados?’ Eu como você respeito muito a sabedoria, inclusive a dos antigos e a oriental, mas também tenho minhas desconfianças porque as sociedades orientais são muito conservadoras e hierarquizadas e, por isso, nem sempre são um bom exemplo para todos.