Drummond escreveu este poema (ver a seguir) há mais de 60 anos e até hoje ele ecoa. Inda mais neste exato momento. Dedico-o especialmente…
– A todos que pediram o impedimento de Dilma só agora percebem que isso significa entregar o país para Temer, Cunha e outros da mesma laia;
– A todos que também vislumbram a mesma coisa, embora se mantenham em silêncio;
- Aos que estão procurando alguma coisa pra dizer;
– Aos que acham que as más companhias citadas são um preço razoável a pagar para se ver livres do PT;
– A todos, do outro lado do muro, que fizeram das más companhias as guardiãs da governabilidade ( e estão pagando alto preço por isso – que pelo menos sirva de exemplo aos demais, do lado oposto);
– A todos que continuam se achando mais certos do que os que estão certos;
– A todos que ainda não perceberam que Dilma, Temer, Renan, Cunha e outros são frutos de um sistema político que continuará a engendrar casos semelhantes, mesmo com todas as diferenças que possam existir entre eles;
– Aos que já se arrependeram;
– Aos que ainda não se arrependeram;
– Aos que não terão consciência do erro que cometeram e jamais se arrependerão;
– Aos que perderam o riso, a utopia, o lugar no mundo, a mulher, o bonde, o discurso, o carinho a esperança;
– Aos que querem abrir a porta e acender a luz e não possuem a chave, nem descobrem onde está o interruptor;
– Ao povo brasileiro!
JOSÉ
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? / E agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber,
já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, / e agora, José?
E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio – e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?
Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?