Eu não votei em Madame. Aliás, já não o havia feito em 2010, quando votei Marina no primeiro turno (não o fiz em 2014) e anulei meu voto no segundo. Eu fui com Lula todas as vezes anteriores, com convicção. Mas minha defecção não deve ser confundida com aquele “sentimento antipetista” fomentado pela Veja e pelos segmentos revoltados da classe média ameaçada pela onda que veio de baixo e parece ameaçar suas prerrogativas, no trânsito, por exemplo, agora cheio de carrinhos 1.0 comprados a perder de vista; nos shoppings, com estes rolés ameaçadores; nas ruas, com os tumultos blackblocs etc.
Não e não! Minha rejeição a este partido de ex-querda é de outra natureza.
Pra começar, eu trabalhei no Ministério da Saúde nas gestões de Serra e de vários ministros nomeados pelo PT: Padilha e Temporão, por exemplo. No primeiro caso, convivi com petistas e membros de outros partidos, sem maiores conflitos. Aliás, ninguém pedia carteirinha partidária para admitir membros de equipes (contratados geralmente pela terceirização via OPAS). Simplesmente, a gente ficava sabendo das filiações deste ou daquele colega só nas mesas de botequim. Quando Serra foi candidato, em 2002, o mais comum era ver as pessoas circulando com bottons e parabrisas dos carros mostrando claramente suas opções partidárias. Sem maiores problemas.
Esta, entretanto não foi a realidade nos governos petistas, principalmente quando o Ministro e sua curriola eram petistas…
Detesto também o “modo petista de ser”, dos indivíduos useiros e vezeiros de frases como “nunca dantes nesse país”, capazes sempre de defender Lula & Dilma, estejam eles certos ou errados, e que alardeiam as ”conquistas petistas”, seja lá o que isso for, independente da natureza das rodas de conversa onde estejam presentes, sejam aniversários de crianças, papos de futebol, velórios – não importa! E tome “todos e todas”, “companheiros e companheiras”…
Rejeito a arrogância desta gente. Além do “nunca dantes” citado acima, me admira a capacidade de que têm de justificar seus maus feitos (para usar uma expressão cunhada pela “presidenta”) como frutos da necessidade de se combater e evitar práticas políticas da “elite branca”, de possíveis retrocessos nas políticas sociais, de submissão aos Estados Unidos etc.
Ah, os maus feitos petistas… Sarney, Lobão, Collor, Temer? São agora companheiros, associados ao modo de governar que está mudando o país!
Políticas sociais que tiraram milhões da miséria! Pena que o saldo negativo não seja valorizado, por exemplo, a acomodação que se instalou nas classes baixas, que preferem o conforto da Bolsa Família a ingressar pra valer no mercado de trabalho.
Uau, a redução do IPI! Grande feito, que colocou nas ruas e estradas do país (como nunca dantes…) milhões de novos veículos, sem maior correspondência com investimentos em transporte de massa.
E essas políticas econômicas que colocam o Brasil com índices “afro” de produtividade e inflação fora de controle?
E se entre as tais “políticas sociais” está a leniência com os que bloqueiam estradas e avenidas, com os que invadem prédios públicos, com os vândalos de diversas naturezas – me coloco fora disso – sou contra! Conferi ao Estado (lembram-se do “contrato social”?) a prerrogativa de usar em meu nome a força que inibe os inimigos da democracia, do direito de ir e vir, da preservação do que é patrimônio coletivo. E quero mais é que o Estado corresponda às minhas expectativas e deixe de lado esta complacência, que não tem correspondência em nenhum país democrático do mundo.
O PT jogo fora a criança com a água do banho. Em nome da liberdade, acoberta a anomia. Em nome dos direitos humanos, protege vândalos e suas variações, agora travestidos de “forças políticas”. Em nome de defesa das minorias, cria excrescências como políticas de saúde para ciganos e a de querer impor, ao arrepio de qualquer noção de prioridade, “cartilhas” variadas, que vão desde a aceitação dos divergentes dos costumes (agora superprotegidos como se não houvesse outras coisas importantes no país) até o uso do “politicamente correto” nas relações interpessoais.
Não aprecio a arrogância de pessoas que se consideram acima do bem e do mal, das leis e dos costumes. Gente que se considera, mesmo quando sabidamente equivocada, mais certa do que aqueles que estão certos. Assim são os petistas.
E digo mais. Convivi de perto com petistas, além dos ambientes de trabalho. Tive a infelicidade de manter um relacionamento íntimo com uma dessas pessoas. O que vi foi tudo isso desabar sobre mim, além da constatação, trazida diretamente do ambiente de trabalho por uma detentora de um cargo comissionado com indicação política, de que petistas não precisam de inimigos externos, eles mesmos se bastam para achincalhar e destruir o “companheiro ou companheira” que por azar pertença a outra “tendência”. Não é de admirar que tenham isso presente em seu DNA relacional.
Sobre um possível governo não petista tenho algumas certezas: (1) nem o Brasil nem o Mundo vão acabar; (2) os programas sociais que geram conformismo (e votos) não vão ser interrompidos; (3) o movimento bolivariano será tratado com deveria ter sido: com distância crítica; (4) o Estado Islâmico não será defendido na ONU; (5) a banca nacional e internacional não ficará pior nem melhor do que esteve nos últimos 12 anos; (6) não precisaremos camuflar nossas opções políticas ou, por outro lado, não precisaremos demonstrá-las e fazer alarde delas a todo custo – isso vai ficar fora de moda.
Sobre Feliciano, Collor, Jucá. Cunha, Renan, Sarney e outros: ninguém precisa me dizer que política se faz é assim mesmo. Sei disso. Sob Temer certamente teremos muitos outros do mesmo naipe. Tudo bem. Mas pelo menos fui coerente e de fato me cansei de emprestar a força modesta do meu voto a referendar este tipo de coisa…
Agora vou rezar a oração de São Vargas Llosa!
E vou tirando o corpo fora antes que o Mundo desabe sobre a minha pobre cabeça…
Fui!
28/10/2014 – Comentário sobre o post acima
Pai,
Vou me ocupar em responder só pq vc é meu pai e eu te amo. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria parado de ler lá no “rolezinhos ameaçadores”.
Vc defendeu perfeitamente o discurso que tem caracterizado a direita nesta eleição. Seu texto todo tem esse viés, mas detaco os comentários homofóbicos sobre a “educação para a diversidade” (política com a qual a Dili tem trabalhado, e que educa crianças para que evitemos novos Levys Fidelix no futuro), além da sua tradicional defesa da “ordem pública” e do uso da força policial nesses casos.
Não deve ser novidade pra vc: eu penso diferente. A esquerda tem discutido é o fim da Polícia Militar, pois temos uma das mais violentas do mundo. E, vc bem sabe, o PT não é um partido de esquerda. Pra mim, tendo opositores tanto à direita quanto à esquerda, o PT é um partido de centro, movimento iniciado quando o partido chegou ao poder em 2003, cujo marco mais visível, nauqele ano, foi a expulsão coletiva que acabou gerando o PSOL de dentro de suas entranhas.
Ainda assim, está “à esquerda” do PSDB, que, por falta de outros interlocutores caminhou, nesse mesmo intervalo, para a direita, representando-a, sintetizando suas bandeiras melhor do que o faria o PFL/Democratas em outras eras…
É uma questão de “bandeiras”. Em relação a elas, pode-se dizer que a eleição foi bastante “petificada” este ano – haja vista que a metade (5 de 10) candidatos era proveniente, em algum momento de suass carreiras políticas, do PT – vamos lá: Dilma, Marina, Luciana, Eduardo Jorge e Zé Maria é ou já foram do PT. E eu nem contei com o PCO (que eu não sei se saiu do PT ou não). Em suma: a esquerda esteve bem representada, e agora é, bem ou mal, representada pela Dilma. É minha percepção.
Mas temos que ver quais bandeiras vc defende. Pelo que li acima, há eloquentes exemplos, são bandeiras da direita. Não há qualquer problema nisso. Minha mãe é assinante de Veja, vota no Aécio e não se preocupa em embasar, em justificar tão bem quanto vc esse ato, que não precisa ser explicado (mas pode ser, se vc quiser, é claro, como quis). Não há razão para vergonha.
Agora, vejo na sua leitura um ponto de vista “de dentro do governo”, que se apega a malfeitos “no varejo” que presenciou, e que significa uma coisa, pelo menos: que vc é um locutor privilegiado, pq tem amigos no governo ou dele participa. Todos nós somos. Mas isso é “varejo”, não decido meu voto por esses fatos. Já participei do governo do Arruda, foi só uma experiência (a minha, única) e não a comparo com a de hoje. Nâo a comparo mesmo. Isso não importa (não pra mim). Mas se quer saber: sofri muito mais assédio moral no governo daquele senhor, do qeu no desta senhora. Mas não é isso que me faz decidir meu voto.
Acho desnecessário vc sentir vergonha do seu ato. O voto é um pra cada um exatamente pra isto: para que “cada cabeça” tenha “uma sentença”. Isso eu respeito, com a “autoridade” de quem foi um dos participantes do “debate mais civilizado do Facebook” (comentário de um amigo meu sobre minha conversa com outra amiga, acerca de uso da máquina nas eleições, segurança da presidente e reeleição, foram os temas tratados na tal “civilizada” conversa). Eu respeito 100% do que vc pensa, e acho que embasa o seu voto… em Aécio! E respeito o direito q vc tem de defender essas ideias.
Agora, se preferir não votar, penso que a maior parte dos destinatários do seu e-mail (que não nos lê, salvo duas exceções, Lela e Dili, mais próximas) irá agradecer, porque prefere que o Ahésim tenha menos votos…
Fique em paz com sua decisão, vc não nos decepcionará de nenhuma maneira.
um beijo democrata,
Maurício