Pérfidos ingleses… Em 1815 mostraram o caminho de casa (e do exílio) a Napoleão, em Waterloo. Agora, 200 anos depois, parece que perderam o caminho do bom senso e da razão…
Não tenho a mínima condição de fazer aqui uma análise econômica ou mesmo política de tal decisão. O que a maioria, mais bem informada do que eu, diz é que ela está na contramão da história. E com isso eu concordo. Sem mais…
Logo a Inglaterra… E que eu amava Beatles e Rolling Stones? A Inglaterra de Churchill, de Wilde, de Kipling, de Huxley, de Hobsbawn, de Amy Winehouse…
Que decepção, meu Deus!
A União Européia é, acima de tudo, um símbolo, um marco de evolução da Humanidade.
Primeiro o macaco desceu das árvores, depois se fez um ser em sociedade. E as sociedades evoluíram, das tribos, às cidades e às nações. E a União Européia representou a superação de todas essas etapas, o embrião, quem sabe, de um novo e harmônico concerto das Nações.No futuro, chegamos a sonhar, viveríamos à sombra de uma jaqueira assim…
E ela só podia ter surgido mesmo na Europa, continente em que milhões perderam a vida ao longo do século XIX, exatamente porque a organização da humanidade em nações isoladas já não servia mais.
Agora, a terra de Engels, o país que abrigou Marx, engata esta marcha a ré na história. E seus mentores são os de sempre. É bom olhar no resto da Europa e em outros países para ver quem se regozijou com tal feito. Entre outros, a família Le Pen, Donaldo Trump, os neonazistas austríacos. É preciso dizer mais?
Falar em uma marcha ao tribalismo pode parecer exagerado, mas de certa forma é para isso que o plebiscito inglês aponta ao refletir a opinião não de uma minoria, mas de uma maioria pífia. Gente medrosa, xenófoba e egoísta, que teme o diferente, o estrangeiro, as conquistas sociais, os direitos das minorias.
E é ruim pensar que aqui no Brasil os recentes embates dos partidários de um e de outro lado, travando batalhas que se resumem, monocordicamente, a um “isso ou aquilo” parecem também – mais uma vez sem querer exagerar – apontar o mesmo caminho. Em suma: o que não somos capazes de entender ou absorver, rejeitamos. Isso quando não tentamos, simplesmente, liquidar o nosso adversário.
E vamos que vamos. O Azerbaidjão, o Kazaquistão, o Tadjiquistão, o Afeganistão já se preparam para receber um novo membro da sociedade tribal de onde eles nunca conseguiram escapar.
Ó Pérfida Albyon, como se dizia antigamente…
CARO FLÁVIO,
coisa mais difícil fazer comentários em cima do fato. Sobretudo no cenário da política internacional.Difícil e compelexa, cada dia que passa.
Como vários outros, o projeto da UE não deu certo. A União foi concebida e criada como cotraponto à hegemonia norte americana. A ideia era superar o limites políticos (as fronteiras dos países), criando uma novidade. D Gaulle já dizia não existir fronteiras ideológicas. Existem, sim, as fronteiras políticas ( os Estados).
Quem ganha com o BREXIT? em princípio a Grã Bretanha, particularmente a Inglaterra. Difícil segurar, agora, Escócia e Irlanda. que ficarão livre para fazer a independência.E começar vôo próprio.
Estados Unidos e China? Vamos pagar para ver.
Por aquí, São Paulo dá início ao SPL/São Paulo Livre. Parece que o TUCANISTÃO vai ser criado. O plebicisto já está marcado para outubro próximo.
E LA NAVE VÁ.
abs geniberto..
Grande Flávio,
parabéns pelo excelente texto!
Tomei a liberdade, sem tua autorização previa, de publicá-lo no “Mundo Século XXI”. Como os leitores (os tais de “acessos”) sempre são poucos, a intenção é de reforçar. Tudo bem?
Vê lá, com um comentário agregado.
http://mundoseculoxxi.com.br/?p=3080
Abraço
VITOR GOMES PINTO
De meu amigo Mauro Marcio de Oliveira recebi o seguinte comentário (discordando de mim, mas que me honrou muito!)
Flávio,
Vejo você muito decepcionado e angustiado com a decisão dos ingleses: pérfidos, perderam o caminho do bom senso e da razão, estão na contramão da história, etc.
A Inglaterra dos Beatles e Rolling Stones, Churchill, Wilde, Kipling, Huxley, Hobsbawn e mais, eu diria, Shakespeare, Milton, Adam Smith e muitíssimos outros não dependeu de integração com o Continente. Aliás, com alguma probabilidade, a produção intelectual ocorre em oposição ao Continente.
Tampouco vejo a União Europeia como um marco da evolução da Humanidade. A União Europeia é filha da necessidade; da necessidade de ‘enfrentar’ os Estados Unidos, que surgiram no final da 2ª guerra mundial como o líder global. Pela primeira vez a Europa defrontou-se com um gigante fora de suas fronteiras. Para isso, partiu para criar um mercado de tamanho equivalente, com o sonho complementar de criar uma federação, como a americana.
Talvez você se decepcionou por ter uma visão idílica da humanidade (“um novo e harmônico concerto das Nações” como diz) frente a minha, que é hobbesiana, da luta, do conflito e do domínio.
Embora o regozijo seja dos Le Pen, Trump e quejandos, é também de gente simples, do inglês anônimo que assim quis. Ou será que a dona de casa que mora no subúrbio de Leeds ou numa vilazinha da Escócia discuta Le Pen, Trump e quejandos ou votou pensando em si? O certo é que a decisão pode ser um indicativo de que a globalização é um arranjo sem sustentabilidade. Num certo sentido, o voto de hoje é dos netos e bisnetos de seus avós e bisavós conquistadores que saíram de casa para conquistar o mundo. Agora, os netos e bisnetos têm de receber em casa os antigos colonizados. Acho que os netos e bisnetos não querem pagar a conta da estripulia de seus avós e bisavós.
Creio que com tanto desenvolvimento das comunicações, transporte e internet, não vamos voltar ao ‘tribalismo’ como você diz. Algumas coisas, talvez sim, como comer as comidas produzidas em casa, sentar nas cadeiras produzidas em casa, e coisas assim. Mas, também, desfrutaremos das coisas que se passam pelo mundo, como os shows, os esportes, e viajaremos, etc. Seria um tribalismo hitech?
Pelo fato de o capitalismo já estar gagá, cresce o medo de faltar pão em casa para todo mundo. E vai ser assim cada vez mais. No limite, a revolução tecnológica está nos dizendo que tudo será produzido por robôs. Virtualmente, o emprego pode chegar a zero. E como fazer para sustentar uma grande quantidade de idosos como, por exemplo, nós, que só damos prejuízo para a previdência? O futuro é sombrio: temos um sistema econômico bichado e uma fatura gigantesca para pagar. De certa forma, vivemos dominados pelo medo. Nossa riqueza é ‘fofa’: 1/3 é do trabalho, real; 1/3 é pilhado da natureza (madeira, minérios, etc.) e 1/3 é imaginária, fictícia, crescida no sistema financeiro.
Para mim essa decisão faz até sentido, pois nunca imaginei haver ‘evolução’ na vida social. Para mim, a vida social é feita de progresso e de debacle. Todos os impérios crescem e morrem. Lugares ricos se empobrecem. Lugares pobres se enriquecem. Essa é a vida. Ponha-se, por exemplo, no lugar de um japonês. É uma nação rica, sem perspectiva. O país está em recessão há 25 anos e não há nenhuma lição do manual de economia que acorde o país. O que era uma virtude (poupança) virou uma desgraça (o povo, com medo, cada vez gasta menos). Resultado: nesses 25 anos, o crescimento, quando existe, não chega a 1%. Você quer ver drama mesmo é quando o petróleo chegar a 5-10 dólares o barril. Milhões e milhões de pessoas terão de deixar seus países para não morrer de fome e marcharão para as partes ricas do planeta. E, agora, José? Creio que uma ‘nova era’ vai surgir, mas depois de muitas lágrimas e sofrimento.
Mas, vamos à segunda parte. Acabo de ler um livro de um tal de Warming, dinamarquês, que morou em MG lá pelos idos de 1860 e, botânico, fala muito do cerrado. Para maiores detalhes veja o arquivo anexo. Dele, queria lhe perguntar duas coisas. Você acha que no Grande Sertão, Veredas, JGR passa para o leitor as duas sensações que destaco abaixo: a do cerrado e a da solidão?
“A primeira impressão do cerrado é animadora. O olhar passa sem obstáculos por sobre a natureza rica e sorridente da vasta planície, um paraíso para o naturalista. A fantasia levanta voo, a mente deixa a tristeza das florestas escuras e torna-se leve e alegre. Surpresa e prazer são os sentimentos que todos os viajantes expressam quando, de repente, chegam ao cerrado pela primeira vez, sobretudo quando este se apresenta vestido nas cores vivas da estação das chuvas”. (55). “O cerrado é cheio de graça para se ver, mas apenas durante um curto período do ano, ou seja, no início da estação das chuvas na primavera, quando as gramíneas, depois das queimadas, brotam de novo da terra, seivosas e verdes”. (86/87) “No início da estação das chuvas, quando quase todas as árvores, arbustos e ervas florescem, o cerrado transforma-se em verdadeiros jardins” (96).
Mas, o cerrado também inspira a sensação experimentada por Eschwege (Brasilien die Neue Welt): “Nunca me senti mais solitário e abandonado do que durante as minhas errâncias pelos belos e intermináveis sertões de Minas. O silêncio e o vazio enchiam-me de tristeza. Nenhuma pegada humana, nenhum vestígio de atividade humana nessa rica natureza que se enfeita quase em vão. Não poder imaginar um morador perto do rio ou atrás deste ou daquele morro – este sentimento de solidão deixou-me sempre com o coração apertado.”(56)
Um abraço,
Muito bom Flavio! gostei da nota e do Blog
Abraço
JULIO MANUEL SUAREZ
Flávio.
Gostei muito do seu texto. Parabéns!
Concordo plenamente que essa decisão é um retrocesso no processo civilizatório da nossa sociedade!
Só falta o Trump ganhar as eleições americanas….
Abração do
Pedro Tauil
DE MIM PARA MEU AMIGO MAURO MARCIO
Eita meu amigo, eu bem que avisei, ab initium, que meu texto não se pretendia de análise econômica ou política. Mas em boca fechada não entram formigas, sejam elas do cerrado ou não…
Você certamente deve estar mais carregado de razão do que eu. Mas eu usei o coração, mais do que a mente; a epiderme mais do que a inteligência. Sorte minha é ter leitores e interlocutores generosos, como você.
Mas veja, nalguma coisa mesmo divergindo consigo aportar argumentos.
Eu acho que a bem ou mal, a UE é um avanço civilizatório. Não apenas por comparação com a Europa da primeira metade do século XX, que produziu Hitler, Franco, Mussolini e outros. Você diz que a UE surgiu para se contrapor ao poderio norte-americano… Tudo bem, só por isso ela estaria justificada.
Compartilho seu pessimismo com a humanidade em geral, mas me permito deixar uma fresta ou outra para a luz entrar. A tribo é menos “civilização” do que a “nação” e a “união” mais do que esta última? Ou não? Eis a questão.
Como fui deixar Shakespeare de fora de minha lista de europeus ilustres… Imperdoável!
A produção política e cultural da Ilha seria realmente independente e até na contramão da continental? Não sei dizer com certeza, mas prefiro dizer que elas se complementam. De um lado Adam Smith, Hobbes, Engels. De outro, Voltaire, Kant, Hegel, Marx. Jogo empatado…
Agora falando sério: obrigado por ter se manifestado.
Na verdade, na verdade, eu nem quero ter razão… Quero me expressar do meu jeito e ter bons leitores amigos (amigos leitores) para me contradizer.
Quanto a Eschwege e Warming, você me traz informações surpreendentes, que nunca me ocorreram antes. Quem teria começado primeiro: as queimadas ou o cerrado? Meu bom (?) senso me diz que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa…
Guimarães Rosa traz um desses alemães perscrutadores em algumas passagens, por exemplo, aquele “Seu Wupes”, presente em GSR ou (seria no ‘Recado do Morro”).
Grande abraço!
FLAVIO
ainda para MAURO
Em tempo: tribalismo e tecnologia não se opõem. Veja, por exemplo, os casos do ISIS e da Al Qaeda…
FLAVIO