Intolerância religiosa. Já havia tratado de tal assunto aqui antes e hoje retorno a ele, eis que a inesgotável capacidade de falar besteira do Escrotíssimo Senhor Presidente da República o colocou em pauta novamente, através de seu discurso patusco perante a Assembleia Geral da ONU, realizada neste 21 de setembro. Menos mal que foi online, isso deve ter contribuído para reduzir a má repercussão internacional produzida por tais perdigotos, e assim, quem sabe, amenizado um pouco a nossa vergonha. Mas, enfim: existiria, de fato, algum tipo de intolerância religiosa no Brasil de hoje?
Tal assunto parecia morto nas dobras da História, mas de repente volta à tona. Não sem motivos, pois além da folclórica boquirrotice presidencial, aqui e ali, por todo o país, explodem casos concretos. Isso, forçosamente, nos leva a tentar fazer comparações com o racismo. No Brasil, até mesmo por intepretações apressadas da obra de Sérgio Buarque de Hollanda, muito se fala daquela suposta “cordialidade” inata do brasileiro. Na questão racial, entretanto, nada mais falso. É a nossa maneira de dizer que não somos exatamente racistas, mas preferimos que os não brancos reconheçam e permaneçam cientes e zelosos daquela especial posição que a cor da pele lhes impõe, ou seja, no andar de baixo.
Na questão religiosa, entretanto, a questão, a meu ver, é bem outra. Essencialmente, somos um país tolerante no quesito das crenças. Nossa formação miscigenada luso-negra-índia algum benefício nos terá trazido… É claro que ao longo de nossa história, judeus, maçons, protestantes, praticantes do candomblé, sentiram o peso do catolicismo ibérico e inquisitório. Mas isso foi em passado já remoto. Hoje, intolerância religiosa tem nome, cpf, e endereço… Seu objeto são as religiões afro e as ações agressivas e intolerantes partem, quase sem exceção, da miríade de igrejas-negócio neopentecostais que se espalham pelo Brasil a fora. Poderosíssimas, por sinal, detentoras até mesmo de redes de TV e de uma “bancada evangélica” nas Assembleias e no Congresso Nacional. Gente que prega, além da prosperidade (para quem contribui com o dízimo), teses tão arcaicas como a negação do casamento homoafetivo, a proibição do aborto, o cerceamento da liberdade de crença, ao mesmo tempo que aderem ao governo – qualquer governo – desde que lhes sejam contempladas as crenças e ideologias. Principalmente aquelas que dizem respeito à prosperidade – dos pastores e dos representantes que elegem, fique claro! Para mim, bom nome para isso é Biblia-business, e é assim que prefiro tratar esta gente, sem nenhum preconceito ou intolerância, mas apenas me atendo a fatos reais.
Assim, os casos de intolerância religiosa com que nos deparamos, cada vez mais frequentes, por sinal, não tem outra origem: os cultos neopentecostais, nos quais é notória a manipulação dos fiéis pelos pastores – empresários. Não se tem notícia, recente pelo menos, de um grupo religioso perseguindo, denegrindo (sem trocadilho) e até mesmo incentivando linchamentos de fiéis de outra crença. Aiatolás ficariam orgulhosos…
E o pior, não apenas Bolsonaro, mas também Lula, Dilma, Alckmin, Doria e outros (nem falo de Eduardo Cunha…), além da quarta parte do Congresso que compõe uma fatídica “Bancada da Bíblia”, incensam esta gente e se rendem a ela. Cito aqueles lá para lembrar que compareceram prazerosamente, como se fosse coisa normal, àquela faustosa inauguração salomônica do grande templo em São Paulo, perpetrada por Edir Macedo, há alguns anos atrás. Mme. Rouseff como Presidente da República, na ocasião, derramou-se em elogios ao feito. Um monumento erigido a uma suposta “teologia da prosperidade” e, principalmente, ao mau gosto. E ainda tratam tal empresário como “liderança religiosa”. Se é assim, proponho conferir a dom Paulo Evaristo Arns, dom Helder Câmara, Henry Sobel e Mãe Menininha, sem esquecer do Padre Júlio Lancelotti, algum título diferente e mais justo.
Cristofobia… Essa é boa. Se bem que teríamos razão em professar uma certa “neo-pentecostofobia” . Eu, pelo menos, assumo.
Que Deus (não o deles) nos ajude!