A nossa Maria Helena partiu. Deixou para mim muitas lembranças. Por exemplo e para começar: a amizade e verdadeira devoção que tive a uma figura verdadeiramente paterna para mim, Dr. José Garcia Brandão, seu pai. E também do que ele me dizia de sua filha, que morava em BH na época em que eu o conheci, anos setenta: você vai gostar dela; pensa as mesmas coisas que você…
Algum tempo depois de fato a conheci, Maria Helena Brandão Oliveira, mais precisamente em 1980, quando ela e seu marido Luiz Felipe vieram morar e trabalhar em Uberlândia. Ela me veio recomendada, também, por minha cunhada Lucia Horta Figueiredo, de quem já era amiga e parceira de trabalho em uma unidade de saúde na periferia da Capital. Mesmo sem tais recomendações, tenho certeza, nossa empatia teria sido imediata e irreversível. E ela acabou por trabalhar junto comigo na Diretoria Regional de Saúde, o que me abriu novos horizontes, pois eu estava recém-chegado de um curso de especialização em planejamento de saúde, na Fiocruz, e já percebia que minha vida de burocrata não seria a mesma, depois de ter sido apresentado a tantas novidades no Rio de Janeiro.
O que eu não sabia então era que meu aprendizado na ENSP estava longe de poder ser considerado completo e satisfatório…
E foi assim que nos pusemos freneticamente a pensar coisas novas, muitas delas, realmente impraticáveis, pois estávamos dentro de uma estrutura muito conservadora e rígida. Mas se ter saúde é ter projetos, nós dois estávamos, ambos, quase que adoecidos de tantos projetos. Realizamos, talvez, menos da metade deles, mas valeu a pena.
A amizade e a admiração por Maria Helena logo se estenderam a Eliane e a meus filhos pequenos, que sempre a tiveram como, mais do que uma pessoa da família, ou tia, um anjo benfazejo, a quem se recorre nas horas boas e más da vida. Tudo isso foi consolidado e eternizado, anos depois, quando ela adotou uma criança – com muito orgulho, meu afilhado Pedro! – a quem Eliane e eu fomos buscar, numa manhã de um domingo em 1985, nos Sertões de Goiás.
Para resumir o que me uniu a esta pessoa admirável, posso dizer que devo a ela grande parte do que hoje constitui a minha capacidade técnica. Eu era apenas um médico clínico quando fui cursar a ENSP/Fiocruz, no Rio. E não voltei de lá muito diferente disso. De tudo que aprendi, depois, a respeito de planejamento, gestão, participação, modelo assistencial, direitos de usuários, educação em saúde, devo muito a ela. Mas não é só isso. Devo dizer também que ela é a pessoa mais coerente que já conheci, mesmo que isso às vezes pudesse incomodar a quem lhe estivesse próximo, e também a mais generosa e disposta a fazer junto, que é uma expressão que ela muito apreciava.
Dr. Brandão estava certo: você vai gostar dela; pensa as mesmas coisas que você… Mas eu acrescentaria: pude também pensar com ela muitas coisas.
Esta vai fazer falta, aliás, já está nos fazendo falta…
***
Oito de fevereiro de 2021 (triste dia…)
Oi Flavio,
A Maria Helena a respeito de quem você escreveu trabalhou no Ministério da Saúde durante o processo de municipalização?!?
Acho que eu também a conheci…
Sim Adrianne, trabalhou na SAS. Com certeza você a conheceu. talvez até na SES MG.