Pandemonia (2): O triunfo das nulidades
Esta semana, a insólita figura pela qual temos a má sorte de sermos governados, sim, ele mesmo, o inominável Messias, em seu destempero habitual, foi à TV, em cadeia nacional, para deblaterar contra as medidas que o mundo todo vem tomando contra a atual pandemia. Contrariou geral, não só os governadores e prefeitos brasileiros que já haviam se antecipado, mas também seu vice Mourão e seu Ministro da Saúde (que logo lhe abriu as pernas docemente), como também os cientistas, a imprensa séria, os governantes do todo o mundo civilizado. Deixou os cidadãos deste país sem saber pra onde ir. Até daquele norte-americano, do qual ele lambe as botas sofregamente, ele se desviou. Como este sujeito não deve ter o hábito de ler jornais, pelo menos os mais sérios, provavelmente ainda não soubesse que seu ídolo havia voltado atrás em tal questão. Mas não lhe faltaram os aplausos de sua legião de aloprados. Parece que a sua reconhecida especialidade de atirar no próprio pé está se aprimorando, tanto que agora consegue alvejar a própria nuca. Mas o pior não seria nada disso, pois o curso de tais acontecimentos poderá dar à sua alcateia de seguidores fanatizados a sensação de que seu “mito” mais uma vez agiu corretamente. Continuar lendo “Pandemonia (2): O triunfo das nulidades”

Querido Lucas Carvalho, leio nos jornais que você, com apenas 17 anos conseguiu vaga no curso de medicina na UnB. É um feito e tanto. Parabéns! E seu merecimento fica ainda maior quando vejo que você é filho de uma diarista e de um entregador de bebidas, que é morador de uma remota periferia do DF e que desde a infância já se virava vendendo brigadeiros na escola. E mais: sonhava ser músico e não deixou por menos, hoje é saxofonista profissional! É muita conquista para uma pessoa só. Parabéns de novo! Nem eu nem a maioria das pessoas conhece, de perto, as intempéries e os acidentes de percurso que você deve ter enfrentado para chegar onde está. Então, você quer ser médico… Sem dúvida, é uma boa escolha. Mas talvez eu, do alto dos meus 71 anos e quase 50 de formado nesta profissão, possa lhe trazer alguma informação que você talvez ainda não tenha recebido ou percebido por si só. Ou talvez já o tenha… De toda forma, me desculpe se repito o que você já sabe e chovo no molhado.
Por estes dias, Drauzio Varela ocupou aquilo que na internet, em língua gringa, chamam de Trend Topics (Trem de Trópicos, como é mesmo?). Ele entrevistou Suzy, uma mulher transgênero, dentro de uma penitenciária e ao final, ao saber que a mesma não recebia visitas há alguns anos, a abraçou fortemente, na frente das câmeras. Que solidão! – exclamou então. Numa terra repleta de gestos trogloditas e inconsequentes foi realmente um consolo ter assistido algo assim. E a internet explodiu – para o bem desta vez – coisa rara de acontecer ultimamente neste pobre país. Seria normal, se não fosse exceção, absoluta, por sinal. Eu também me senti feliz e gratificado. Gosto de Drauzio, de sua figura humana, de seu jeito de ser, das coisas que faz e fala, de sua boa e suave militância – e não é de hoje.