De saúde e cultura

JecaTatuzinho4Belmonte

Há dias, o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, portador de um interessante estilo “deixa que eu chuto”, nas palavras inesquecíveis de Flavio Rangel, sobre o ditador Figueiredo, andou dizendo que um grande problema dos serviços de saúde é ter de atender as pessoas que, segundo ele, “fingem estar doentes”. Não sou de salvar a pele de autoridades, mas, dessa vez, acho que ele tinha até um pouco de razão, mas não soube como expressá-la corretamente. Aqui vai, assim, minha contribuição ao tema. Ministro, você me deve essa, ok? Que tal se para quitar a dívida me consulte a respeito deste “Plano Popular de Saúde” que o senhor está lançando?

Quando fui Secretário Municipal de Saúde, por duas vezes, aliás, em Uberlândia, recorri várias vezes ao argumento de que muitos dos problemas dos sistemas de saúde – no caso da cidade onde eu era gestor, de forma evidente – derivavam de uma cultura do usuário, que poderia se traduzir simplesmente por: “a saúde tem obrigação de me dar tudo que eu preciso!” E não importaria a dimensão e a natureza de tal necessidade – neste “tudo” estariam incluídos desde o desemprego até as desavenças conjugais. Continuar lendo “De saúde e cultura”

“Cobertura” ou “Sistema” Universal de Saúde?

ENCRUZILHADACobertura Universal de Saúde (CUS ou UHC), nos termos propostos por OPAS, OMS e outros organismos internacionais é definida como a possibilidade de acesso amplo e equitativo às ações e serviços de saúde integrais e de qualidade, de acordo com as necessidades individuais ao longo da vida. O conceito inclui, também, a definição e a implementação de políticas e intervenções de natureza intersetorial, tendo como foco a atuação sobre determinantes sociais da saúde, de modo a fomentar o compromisso coletivo com a promoção da saúde e do bem-estar, com ênfase na equidade, com ênfase sobre os indivíduos e grupos em condições de pobreza e vulnerabilidade. Mas a recepção da proposta no Brasil e na América Latina está longe de obter consenso. Você saberá o por quê lendo todo o texto… Continuar lendo ““Cobertura” ou “Sistema” Universal de Saúde?”

O SUS e o bode na sala

BODE ORELLANADeu na mídia (ver link ao final deste texto) que uma pesquisa do Datafolha encomendada por entidades médicas revela que quase dois terços dos brasileiros dão nota menor que cinco à saúde no Brasil, seja ela pública ou privada. É duro, não é? Mas tem mais…

A pesquisa é nacional e reflete quase 2,5 mil entrevistas realizadas em junho último. Para cerca de 20% dos entrevistados, o atendimento no SUS merece nota zero; outros 18% deram nota cinco. Juntando os serviços de saúde públicos e particulares, os que deram nota zero chegam à quarta parte do total. Continuar lendo “O SUS e o bode na sala”

“Mais Médicos”: áreas de sombra

ChiaroscuroO Programa Mais Médicos atende, é claro, a uma demanda da sociedade brasileira. Com efeito, se os médicos no Brasil têm sua proporção face à população não totalmente distante daquela de muitos países desenvolvidos, mesmo os detratores da iniciativa admitem que a questão da distribuição destes profissionais (bem como de outros da área da saúde) é extremamente desigual no país, com coberturas muito menores nas regiões e cidades mais pobres ou remotas. Deve se lembrado, também, que o programa, embora receba críticas pela sua atuação restrita em uma abordagem fortemente quantitativa, Continuar lendo ““Mais Médicos”: áreas de sombra”

Para onde vai o SUS?

Em setembro de 2013 tive a honra de participar como relator do CONASS DEBATE, segunda edição, que teve como tema a instigante pergunta: PARA ONDE VAI O SUS? O texto abaixo é de minha autoria, mas reflete as ilustradas exposições de renomados pensadores brasileiros da área de saúde convidados para o evento. A memória completa do evento, incluindo exposições e apresentações em power point, pode … Continuar lendo Para onde vai o SUS?

Dez propostas para o SUS tomar jeito…

As discussões sobre o SUS estão repletas de obviedades, de platitudes, de unanimidades e de triunfalismo. Assim, com este texto despretensioso, “pego o pião na unha” e me arrisco a fazer algumas propostas – dez,mais exatamente – para melhorar nosso sistema de saúde. Mas, atenção: eu disse DEZ PROPOSTAS e não DESPROPÓSITOS… Vamos lá? MODELO ASSISTENCIAL Vamos combinar? O modelo assistencial do SUS deve ser … Continuar lendo Dez propostas para o SUS tomar jeito…

Círculos Virtuosos e Boas Práticas em Saúde da Família

O presente texto é o capítulo final, de conclusões, de minha tese de doutorado apresentada á ENSP/FIOCRUZ em 2002, na qual realizei estudos de caso de experiências consideradas, à época, bem sucedidas na implementação da Estratégia de Saúde da Família (Curitiba-PR, Niterói-RJ, Vitória da Conquista-BA, Contagem e Ibiá-MG). Acho que as conclusões a que cheguei ainda estão valendo…   FATORES DE ACERTO, FATORES DE DESACERTO … Continuar lendo Círculos Virtuosos e Boas Práticas em Saúde da Família

Dona Cecília e a boa gestão em saúde

Na minha infância em Belo Horizonte, nos anos 1950, tive a chance de estudar em uma daquelas escolas-modelo. Pública, como convinha e ainda convém. Ali, cantávamos o Hino Nacional uma vez por semana, nossos uniformes eram fiscalizados até quanto à cor das meias (obrigatoriamente brancas!) e o polimento dos sapatos Vulcabrás. Qualquer deslize com os professores e colegas fazia com que fôssemos remetidos, de imediato, … Continuar lendo Dona Cecília e a boa gestão em saúde

Saúde da Família: é preciso equilibrar “músculos” e “inteligência”…

APRESENTO aos meus leitores entrevista que concedi recentemente (abril 2014) ao site rededepesquisaaps.org.br / da ABRASCO. 1)     No Fórum Saúde do Brasil, realizado no final de março em São Paulo , o ministro da saúde reforçou a importância de consolidar a Atenção Básica. Como você avalia o SUS e o crescimento da Atenção Primária no país? A APS, não se pode negar, vem crescendo muito … Continuar lendo Saúde da Família: é preciso equilibrar “músculos” e “inteligência”…