As Três Graças

Sei que na história da Arte as Três Graças representam outra coisa. Mas por afinidade resolvi associar este nome para ilustrar esta reunião de escritos meus, que junta Contos, Crônicas e Poesias. É o resultado de pelo menos trinta anos de tentativas literárias, embora em relação aos contos minhas experiências sejam bem mais recentes, de apenas alguns meses. Como selecionei dez exemplares de cada uma de tais categorias, dei à coletânea este nome bem pouco literário: 10+10+10, embora fiel ao objeto apresentado. Ficam assim aqui registrados estes escritos, para a posteridade, ou para alguém apareça – e será bem vindo! – para me ler antes disso.

Continuar lendo “As Três Graças”

Registrado nas Efemérides (e outras histórias)

Aqui vai mais uma pequena seleção de contos meus. Desta vez são dez. Começa assim… <<Destas ruas de pedras lisas, que tantos pés esculpiram, as feridas nos morros se fizeram menos mortais e as mangueiras inundaram tudo com o cheiro seminal de suas floradas; das gelosias dos casarões alguém viu, mas sobre isso se calou….>> Acesse: Continuar lendo Registrado nas Efemérides (e outras histórias)

Amor infernal

Que caso mais esquisito o que eu tive com aquela mulher. Eu chamaria aquilo de um negro amor, não como uma expressão racista (porque hoje esta palavra exige cuidado pra ser usada), mas como uma coisa que mesmo durante toda sua presença em minha vida eu só queria que acabasse e que fosse esquecida. Um sentimento que se tem, quem sabe, pelos mortos desconhecidos e incapazes de outra vez se levantarem. Pedras de um caminho que cumpria serem deixadas para trás.

Continuar lendo “Amor infernal”

Vaga, lembrança (Memórias)

Resolvi escrever minhas memórias. Pretensão demasiada, talvez… Acontecimentos que vivi não foram poucos, claro, afinal quase são quase 75 anos de vida. Mas importantes mesmo foram: meu comparecimento à inauguração de Brasília em 1960; minha opção para o Colégio Universitário em 1966, deixando para trás a verdadeira zona de conforto do Colégio Estadual; minha bolsa de estudos nos States, em 1970; minha opção, junto com Eliane, de deixarmos outra zona de conforto, em BH, para ir para o Oeste, para o interior, em 1974; ter sodo Secretário Municipal de Saúde em Uberlândia, em 1983 e depois em 2003; a opção por morar em Brasília, em 1991; minha participação, hoje meio esquecida, no Movimento Municipalista de Saúde nos anos 80; a construção de minha casa “definitiva” nas Taboquinhas, 2010-11; além, é claro – e principalmente – do nascimento de cada um dos meus cinco filhos, Daniela (1974); Mauricio e Fernanda (1976); Flavinho (2003) e Sophia (2006). Mas o que produzi de importante, de fato, em termos de alcance social ao longo de minha vida? Não se trata de modéstia, foram poucas coisas mesmo. Mas em três delas ninguém me tira o orgulho de ter participado, diretamente, com muita crença e afinco. Primeiro, o tal movimento municipalista, no qual ajudei a fundar duas entidades hoje da maior relevância na política de saúde no Brasil, os Conselhos de Secretários Municiais de Saúde de MG e Nacional (Conasems). Tem também o estágio dos alunos de Medicina da UnB em Ceres, depois de três décadas de afastamento da Faculdade deste tipo de atividade, lá encontrando pessoas certas para viabilizá-lo. Por último a criação e a operação do blog Saúde no DF, cujo slogan é A Saúde no Distrito Federal tem jeito! no qual, em cinco anos ininterruptos de funcionamento, já botei para circular mais de 300 matérias, todas de minha autoria. Só não me perguntem pela real repercussão e influência disso na política de saúde desta cidade. Um dia, quem sabe… Mas se você estiver interessado, vire a página e prossiga na leitura…

Continuar lendo “Vaga, lembrança (Memórias)”

Uma viagem e tanto…

A viagem de que se fala aqui, na verdade, era para ser outra. Transcorreria antes do grande cataclisma mundial e nacional que foi a pandemia de Covid e reuniria apenas a família Camarotti, representada por Henriqueta, Helaine e Alexandre. Mas o mundo virou de pernas pro ar, dois anos inteiros se passaram e ela acabou acontecendo com novos personagens adicionados: Flavio Goulart e Maria Íris Guimarães. Alexandre deixou para outra vez. Assim é que nestas páginas eu, Flavio Goulart, narro minhas percepções sobre esta viagem, sob a forma de crônicas. O ideal seria que cada uma das demais viajantes deixasse também suas impressões, pois o que aqui vai é apenas uma visão individual. O narrador, admitamos, não é dos melhores, mas dos mais expostos à galhofa, como disse Drummond a respeito de si mesmo, mas é o que se oferece para o momento. Intitulei estes escritos de Crônicas Portuguesas. Espero que os leitores também apreciem, já que eu gostei muito de ter escrito…

Continuar lendo “Uma viagem e tanto…”

Crônicas do Bom Viajar

Esta foi uma viagem a dois, para dois e entre dois. As origens de sua realização se situam antes, muito antes de ela ter ocorrido de fato. Mas por que Portugal? Por um lado, pela ascendência portuguesa de Keta. Por outro, pelo meu amor ao país onde também tenho raízes, embora mais remotas. Mais um lado foi trazido pela generosidade de Keta, minha mulher, em pensar que eu poderia guiar uma viagem que ela ainda não havia realizado, apesar de conhecer Portugal de outras passagens pelo país. Uma viagem, acima de tudo, amorosa, na qual paisagens, lugares e nossas duas pessoas estiveram entrelaçados todo o tempo, em clima intenso de conexão entre a construção humana, a paisagem, a amorosidade e o sagrado. E assim decorreram as semanas iniciais em Braga, depois os dias em Marselha e Paris, para arrematar com mais um tempo, de novo em Braga e depois Lisboa. Pequenos contratempos, como o furto de um celular e de cartões de crédito não tiraram o brilho da viagem nem a nossa alegria de estarmos juntos. Pelo contrário, fizemos valer com brilho o adágio, aquele, que fala do suporte mútuo na alegria e na tristeza, levados então por nós até as derradeiras consequências. Foram quase 60 dias juntos, 24 horas por dia, sorvendo cada hora e cada minuto, conhecendo coisas e lugares novos e diferentes praticamente a cada dia, mas principalmente nos (re) conhecendo, em um estado de permanente gratidão ao destino por nos ter proporcionado, depois de 12 anos afastados, um reencontro tão luminoso. Esta viagem foi um marco para nós. Assim foi, assim será. Cabe lembrar Saramago: O fim duma viagem é apenas o começo doutra […] É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já. Nossa história juntos mostra também tais desígnios e por isso fazemos disso palavras também nossas. E, principalmente, que tenhamos muita disposição e muita saúde para as outras viagens que nossa vida, juntos, haverá de proporcionar…

Acesse o texto completo aqui:

Continuar lendo “Crônicas do Bom Viajar”

Entre Sertões: de Brasília ao São Francisco e ao Jequitinhonha

 (Estrelando: Keta, Flavio, Iris e Luiz Gonzaga)

Com toda felicidade e já com saudades dos excelentes dias passados junto a tão amáveis companhias, eu, Flavio, principio este relato. Parafraseando Guimarães Rosa, aliás nosso companheiro constante nesses dias, esta foi uma viagem inventada (e realizada) no feliz. Não posso dizer que houve muita preparação, pelo menos coletiva, pois meus companheiros delegaram, com muita honra para mim, as atribuições de planejador, guia e escriba, além de condutor. E assim nos juntamos, Keta Camarotti, Iris Guimarães, Luiz Gonzaga e eu para este giro pelos Sertões de Minas, sem desprezar seu correspondente goiano, entre 5 e 11 de maio de 2023.

Continuar lendo “Entre Sertões: de Brasília ao São Francisco e ao Jequitinhonha”

O Redentor

Não foi nada não, lhe asseguro. Os pipocos que o senhor ouviu não foram de briga de homem. É coisa minha mesmo, gosto de praticar a pontaria, quase todo dia faço isso. Agora, com o preço da munição pela hora da morte – desculpe a brincadeira – está ficando mais difícil, mas mesmo assim não deixo de dar meus tirinhos, sempre num barranco aqui do quintal, para não acertar ninguém – Deus me livre.

Já fiz disso profissão e acho que até criei fama. Mas agora o que me interessa são essas galinhas, essa horta de couves, algum leitão que engordo para o Natal. Armas quase não tenho mais, só uma zinha a Flobé, quase um cisco de carabina, brinquedo de menino perto do que já tive nas mãos, em tempos passados. Mas isso já acabou para mim, total: o senhor fique sabendo.

Continuar lendo “O Redentor”

O Matador

Eu mato sim: baratas. E também elimino formigas, percevejos, escorpiões. Estou me especializando em lesmas, há uma praga delas aqui na cidade. Acho que é uma profissão de grande interesse para a sociedade.

Mas não vim parar aqui como escolha minha, principal. Eu tentei vestibular para biologia e também veterinária e não consegui passar, Isto é, passei numa escola particular. Mas quem é que dá conta de pagar mensalidade de dois ou três mil reais numa faculdade? Quem vem de escola pública, sabe como é? Eu precisava trabalhar, ganhar a vida.

Criei uma empresa de mentirinha, a Baratinha. Digo isso porque a empresa sou eu mesmo, não tem CNPJ nem nada. Eu, meu celular, minha bombinha e minha bicicleta. E Deus no céu. Pagamentos, só por pix.

Continuar lendo “O Matador”

Coisas entre o Céu e a Terra

Há mais coisas, Horácio, entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia. Hamlet – Shakespeare (Ato I – Cena V)

Logo que viu aquele negro jovem e corpulento, com um tosco cartaz escrito a pincel atômico com seu nome, a esperá-lo na calçada do aeroporto, sentiu de imediato certa empatia pela figura. Em cada movimento seguinte viu confirmada suas impressões, nos votos de boas-vindas, na mala que lhe foi retirada pressurosamente das mãos, na indagação se havia feito boa viagem. Quando entrou no carro havia a sua disposição pastilhas de menta e água mineral, meio quente, mas sempre um agrado, pensou, mas que mais ainda lhe aumentou a simpatia pelo motorista, que o conduziria para uma viagem noite a dentro.

Estava ali para uma visita técnica à prefeitura do município, situado a quase 200 km daquela cidade polo, para onde o avião trouxera. Era bem acostumado com este tipo de viagem e as recepções que lhe faziam costumava ser variadas em termos de qualidade, mas aquela lhe parecia estar entre as mais calorosas que já experimentara.

Continuar lendo “Coisas entre o Céu e a Terra”