Trouxe aqui há poucos dias as impressões de uma criança, na verdade encarnada no olhar de Guimarães Rosa, sobre esta cidade de Brasília, ainda nas dores de seu nascimento. Pretendo estender tal série de registros sobre nossa cidade em seu estado nascente, pelo menos até quando possa ou encontre informações. As poucas pesquisas sobre tal tema que fiz até agora me deixaram animado. Hoje trago o poema de Vinicius de Moraes que compõe, junto com Antônio Carlos Jobim, uma Sinfonia da Alvorada criada especialmente para a inauguração de Brasília. Penso que a obra, de feição épica, está quase caindo no esquecimento – mais um motivo para trazê-la de volta, portanto. Nos registros da web foi possível capturar que ela representa um poema sinfônico, datado de 1959, já celebrando a inauguração da nova capital, que se daria no ano seguinte. A obra é dividida em cinco movimentos, com diferentes temas, tais como a paisagem anterior à construção, a chegada do homem, a chegada dos trabalhadores, a construção da cidade em si e, por fim, um cântico de exaltação àquela que então já havia sido denominada de A Capital da Esperança. A história de tal peça sinfônica foi, contudo, tumultuada. Deveria ter sido executada já na inauguração da cidade, em abril de 1960, mas problemas administrativos o impediram. Adiada para o sete de setembro do mesmo ano, também não ocorreu, pois então havia escândalos de corrupção (isso não é de hoje, portanto…) que a inviabilizaram. Acabou sendo lançada como LP em fevereiro de 1961, mas a primeira apresentação pública só aconteceu em 1966 na antiga TV Excelsior. Estreia em Brasília, só em 1986, seis anos após a morte de Vinicius, com orquestra regida por Alceu Bocchino e com Susana Moraes, filha de Vinicius, fazendo a leitura do poema.
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